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Por isso esse blog possui esse nome... Jigoku No Sora,
o Teto do Inferno

"Esse eu insensato, que tem tão pouca chance de salvação, é totalmente incapaz de resistir a desejos intensos e comprometimentos, a essa sucessão de dias e noites, inegavelmente reais, passada sob o constante tormento das ilusões monstruosas; isso é o inferno." - Hiroyuki Itsuki

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23 de maio de 2013

Byodoin em Uji

(fotos em breve)

Bom o Byodo-in... para começar temos que falar sobre o conceito desse templo. Trata-se de um templo da Escola Tendai, umas das mais antigas do Japão e que foi o berço das escolas Soto-zen, Jodo, Jodo-shin e Nichiren, ou seja, o que conhecemos de "moderno" no Budismo japonês se originou nesta escola. Isso se deu por causa da grande gama de sutras estudados nela e como ninguém consegue estudar muitos deles ao longo da vida, vários monges passaram a se concentrar em alguns deles para então divulgá-los. No caso da escola Jodo Shin, a qual eu pertenço, nosso fundador Mestre Shiran,
antigo monge da escola Tendai, dedicou sua vida ao estudo dos sutras e tratados sobre a Terra Pura do Buda da Luz e da Vida Infinitas, Amida (ou Amitayus / Amitabha).

Um desses sutras, o Sutra Maior de Amida (Daikyo), faz uma descrição detalhada do que seria fisicamente essa Terra Pura. Como são suas árvores, lago, flores, aves, música, palácios e habitantes. Tudo isso com uma grande riqueza de detalhes sobre forma, cores, odores, tons, texturas e materiais. Dessa forma, o Sutra nos descreve o que nos espera quando aspiramos renascer naquele local.

Pois bem, alguém resolveu construir essa Terra Pura em Uji e o chamou de Byodo-in!

Logo que se entra somos saudados pelo maior pé de glicínia que eu jamais poderia pensar em ver (mesmo pq depois de um raquitico pé desses plantado em um templo em São Paulo que eu só vi dar UM cacho de flor, uma vez, em 10 anos, era a primeira ocasião com a qual me deparava com tal beldade, ainda mais daquele tamanho - olhe a foto!). Não sou botânico, mas o caule me parecia centenário e para meu deleite estava TOTALMENTE florida, mais uma vez, TOTALMENTE! Cachos enormes de glicínias branco-arroxeadas pendendo de ramos e mais ramos exalando um perfume muito agradável.

O parque é grande, do tamanho do parque da Aclimação em São Paulo (para quem conhece), mais ou menos e logo depois desse maravilhoso pé de glicínia, temos um templo dedicado a um dos protetores do Dharma, Fudo-Myoo, com um jardim contemplativo, cheio de árvores de bordo com suas folhas vermelhas, amarelas e verdes. Tipicamente uma paisagem japonesa. Sem contar nas azaléias que também estavam vívidas e finalizando o contorno colorido da cena com suas flores vermelhas, rosas e brancas.

Andando-se mais um pouco, ele se revela: o famoso lago de flores-de-lótus e o pavilhão da morada de Buda Amida bem na beira dele, exatamente como descrito no Sutra. Estou desconfiado que visitamos o Byodo-in no auge de sua beleza esse ano. Estaria perfeito se também as flores-de-lótus estivessem floridas.

Infelizmente o Pavilhão de Amida, principal contrução do parque estava envelopado com uma estrutura metálica, pois encontrava-se em manutenção centenária. E aqui vale uma nota sobre a construção de templos no Japão, conforme aprendi no Honzan do Honganji. Os templos são feitos para durarem 300 anos, sendo que ao fim desse período devem ser demolidos e refeitos, ainda que a cada 100 anos deva-se fazer manutenções corretivas e preventivas. O nosso próprio Amida-

do, o Pavilhão de Amida, no Honzan está passando também pela sua primeira manutenção centenária, ou seja, primeira desta construção que ali se encontra. Mas haverá um post sobre isso mais tarde.

Assim, sem termos a chance de entrar no Pavilhão de Amida, construído conforme as descrições de Buda Shakyamuni, contemplamos aquela natureza quieta, tranquila e sublime. Descobrimos então que o centro de visitantes havia se transformado em um museu, mas como mencionei anteriormente já se passava das 17 horas e, claro, o museu também fechava neste horário. Mesmo assim fomos até lá para usarmos o banheiro do centro de visitantes e olharmos a famosa "lojinha"... foi aí que uma coisa estranha aconteceu...

Assim que nós três pisamos no centro de visitantes, uma japonesa de uniforme do local se materializou na nossa frente, se curvou nos cumprimentanto, virou-se e abriu uma cancela (dessas de marcar fila) e disse "por favor" nos indicando o caminho, passamos e ela correu na frente e chamou um elevador que logo se abriu e ela praticamente nos empurrou delicadamente para dentro sem falar uma palavra. A porta se fechou e um olhou para a cara do outro sem entender nada. Logo perguntei ao Jean, "ela disse alguma coisa? para onde estamos indo?". Ele só deu de ombros e a porta se abriu novamente, sem sabermos se descêramos ou subirâmos. Outra japonesa de uniforme apareceu, nos cumprimentou e indicou o caminho quando demos de cara em uma porta enorme. Ela então tirou uma chave do bolso e abriu a porta, passamos e ela se trancou pelo lado de fora, deixando-nos lá dentro de onde quer que fosse.

Um olhou para o outro e seguimos por um corredor todo de paredes de cimento queimado e iluminação fraca e indireta. Há alguns passos de distância saímos em um grande salão no qual se encontravam as estátuas que outrora ornaram o Pavilhão de Amida. Eram dezenas! Lindíssimas e de um detalhamento assustador. Bodhisatvas, dragões, apsaras, klavinkas, budas, protetores e mais um tanto de seres celestiais iluminados por um luzes potentes mas focadas, dando a impressão que todos flutuavam no espaço vazio, tal qual o Sutra menciona. Ficamos pasmos. E éramos os únicos ali... afinal o museu estava fechado e ainda não tínhamos entendido aquilo tudo.

Visitamos mais algumas salas com adereços e a história do templo e encontramos a rampa de saída (tínhamos descido) e chegamos ao térreo onde três recepcionistas nos aguardavam para fechar o centro de visitantes e ir embora.

Ainda caminhando para fora estávamos confusos com o que tinha acontecido, uma vez que mais gente tinha entrado no parque conosco e poderia até jurar que tinha gente atrás de nós quando entramos no centro de visitantes. Mas por que só nós descemos para o museu, nunca saberemos.

Como nos disse o Jean, Uji tem sua magia, só indo lá para ver como ela vai se manifestar para ou em você, afinal estamos na Terra Pura de Amida!

:-)

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