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Por isso esse blog possui esse nome... Jigoku No Sora,
o Teto do Inferno

"Esse eu insensato, que tem tão pouca chance de salvação, é totalmente incapaz de resistir a desejos intensos e comprometimentos, a essa sucessão de dias e noites, inegavelmente reais, passada sob o constante tormento das ilusões monstruosas; isso é o inferno." - Hiroyuki Itsuki

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19 de novembro de 2008

Dana - Doação Espontânea

Como muitos freqüentadores (será que ainda tem trema?) de centro de Dharma e templos budistas sabem que quase nenhum centro tradicional de Budismo trabalha no azul, ou seja, praticamente todos têm um deficit de caixa no fim do mês justamente por não cobrarem qualquer tipo de mensalidade compulsória de seus freqüentadores e apenas sugerirem uma doação na medida do possível para tentar cobrir as contas.

Já estive em vários centros que estampam seus gastos no mural de entrada para que, numa atitude de transparência total, todos possam entender para onde vai o dinheiro arrecadado e como ele é gasto. Centros de Dharma sérios aceitam (e ficam contentes com isso) qualquer tipo de doação, mesmo que não seja dinheiro, mas produtos de limpeza, comida, alguma ajuda na manutenção, pintura, o que possa ser utilizado de uma maneira ou de outra, porque a idéia não é lucrar e sim, manter-se ativo.

Alguns centros recentemente decidiram ousar mais e buscaram fundos para construir seus templos, alguns na Grande São Paulo e fico muito contente que tenha acontecido, por exemplo, com o Chagdud Gompa que irá inaugurar seu centro de retiro no próximo dia 3 de dezembro em Cotia. Falando no Chagdud Gompa, me lembro quando há quase 10 anos se iniciaram os projetos para adquirir as terras nas quais o templo foi erguido. Uma mobilização incrível, com muita participação dos adeptos, mas não só com dinheiro, mas com trabalho. O dinheiro terminou vindo de maneira muito suada, através de rifas, jantares, venda de produtos e doações espontâneas, vindo até do exterior, feitas por benfeitores com poder financeiro maior.

O mais bonito dessa mobilização se deu ao fato que não houve nada compulsório, não se cobraram taxas dos frequentadores, mesmo porque o centro urbano continua funcionando e precisava continuar funcionando. O tempo passou e o templo nasceu com muito esforço, mas sem, em nenhum momento sequer, ferir o princípio do Dana, da doação espontânea.

Nenhum centro sério e tradicional, que tem uma diretoria competente e ligados a uma instituição oficial é capaz de fazer cobranças compulsórias de seus membros, pois não há nada mais anti-Budista do que isso. E essa é uma das dicas que dou para quem me pergunta que centro de Dharma frequentar. Costumo dizer: "Peregrine, visite vários centros até achar um que encaixe na sua vida, mas se algum cobrar qualquer taxa obrigatória ou mensalidades, fuja na mesma hora!". E repito isto aqui para todos: "Fujam! Cuidado com os "embusteiros do Dharma"!" Infelizmente existem muitos por aí, começando por seitas travestidas de budistas e depois por falsos mestres e professores de Dharma, chegando mesmo a alguns monges ordenados, mas desgarrados de suas instituições que resolvem se aproveitar de sua condição, muitas vezes desconhecida por vários, para enganar os mais desavisados. Isso ocorre em outras religiões e infelizmente ocorre na nossa também.

Ontem mesmo, recebi uma denúncia sobre cobrança compulsória da parte de um suposto monge, que pede comprovante bancário do depósito de um valor fixo para poder ensinar (e a distância ainda!) e segundo o denunciante este o faz em nome do "dana". Ora, o preceito do dana se baseia na compaixão, na espontaneidade e na capacidade do doador, não é um fator de troca, tão pouco uma exigência! Buda não entrava na casa das pessoas e atacava as panelas que estavam no fogo para pegar comida ou obrigava alguém a lhe ceder uma cama para dormir! Entendo que muitos monges necessitem sobreviver e manter suas necessidades fisiológicas, mas quando entraram para a vida monástica, sabiam muito bem onde estavam pisando. Agora vir e começar a cobrar para ensinar? Faça me o favor...

O que posso dizer é: Existem dezenas de centros budistas sérios no Brasil, dezenas de monges respeitados que podem e devem ser seguidos. Monges e centros que já mostraram sua seriedade e seu compromisso com o Dharma e com a sociedade brasileira, logo, rogo que aqueles que querem orientação busquem um desses centros ou monges e se a distância é um problema, existem centros como o Nalanda de Belo Horizonte que possui cursos online e outros tantos monges que não se esquivam de responder emails ou telefonemas. Não busquem o incerto ou o duvidoso pois é difícil saber quem está do outro lado e quais são suas qualificações. Sendo assim, para não errar e cair em uma armadilha, consultem os centros e templos listados no Dharmanet, pois os criadores do site escrutinaram todos os estabelecimentos ali listados para terem certeza das origens e das qualificações de cada um. Se está naquela lista, é seguro.

Infelizmente o Budismo não está blindado contra pessoas inescrupulosas, mas uma coisa é certa: a Lei do Karma funciona para todo mundo.... mais cedo ou mais tarde....

Namo Amida Butsu

12 de novembro de 2008

Eleições

Apesar deste texto estar com o tema atrasado, achei que seria interessante abordá-lo, uma vez que fui questionado por um adolescente sobre o assunto.

Há duas semanas, acompanhei o pessoal da (antiga) 8a. série (atual 9o. ano) da escola das minhas filhas, um uma visita ao Betsuin (sede do Honpa Hongwanji em São Paulo). Já é o segundo ano que essa visita acontece, pois essa moçada pesquisa sobre ritos de passagem nas sociedades e nas religiões, pois eles estão vivendo um momento de transformação, sendo que vão para o colegial e depois, em três anos, para uma faculdade.

Em minha paletra para cerca de 10 alunos, comecei dando meu testemunho sobre a pressão que sofremos da família, sociedade e amigos para encontrarmos uma profissão, um caminho a seguir. Falei sobre a total incoerência desta atitude com os princípios budistas, que afirmam que temos que viver no presente para poder constuir um bom futuro. Disse a eles que logo entrei em engenharia após o 3o colegial, mas olhando para trás vejo hoje em dia que teria feito outra coisa, como gastronomia, por exemplo.

Então o grupo cheio de curiosidades, levou o assunto para karma e Iluminação. Então, comecei a falar sobre o não-julgar, como a maneira de se não gerar pegadas por onde passamos, não gerarmos consequências de nossas ações. Recebi a seguinte pergunta: "Mas se não devemos julgar, como votamos? Como escolhemos um prefeito?". Foi aí que me dei conta que muitas vezes as pessoas votam por empatia e não na competência do candidato e que estes candidatos passam por um "julgamento" público e não necessariamente por uma escrutinação. Mas achei a pergunta ótima.

Passei a explicar que não devemos votar por aversão ao outro canditado ou por simples simpatia, temos que analisar as propostas de cada um e ver o quanto elas se alinham com as necessidades de nossa cidade. Votar em um ou outro candidato com consciência não é, necessariamente, um julgamento e sim uma escolha concreta e racional, pois votar em fulano porque é meu vizinho, ou frequenta a mesma igreja ou deixar de votar pelos mesmos motivos são casos vívidos de julgamento, de apego e aversão.

Em São Paulo, uma das candidatas era budista, não votei nela. Seu programa, a meu ver, não se encaixava em uma cidade como São Paulo. Poderia ter votado sem pestanejar simplesmente por termos a mesma convicção religiosa, mas só isso é necessário para governar um "país" como São Paulo? Eu achei que não.

Logo, não podemos confundir escolhas estruturadas com paixões mundanas. Como também não podemos achar que vamos parar de julgar tudo e todos da noite para o dia, porque se fosse fácil, ninguém ía precisar de prática nenhuma para se atingir a Iluminação.

Namo Amida Butsu!!!!