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Por isso esse blog possui esse nome... Jigoku No Sora,
o Teto do Inferno

"Esse eu insensato, que tem tão pouca chance de salvação, é totalmente incapaz de resistir a desejos intensos e comprometimentos, a essa sucessão de dias e noites, inegavelmente reais, passada sob o constante tormento das ilusões monstruosas; isso é o inferno." - Hiroyuki Itsuki

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27 de março de 2008

A Crise no Tibet e a Passividade Humana

Tudo tem limite e tolerância não pode ser confundida com conivência. Ao mesmo tempo que fechamos os olhos ou olhamos para o outro lado para nossos problemas cotidianos, para o mendigo jogado na rua, para o bêbado atravessando a rua, para a visão grotesca das favelas imundas, para a situação dos presos e das vítimas, também fazemos de conta que as situações longínquas não nos afetam de maneira alguma, ou tendemos a julgar a nosso bel prazer ao que devemos nos importar ou não.

Primeiro, tivemos o massacre de monges na Birmânia. Todos se revoltaram mundo afora, mas e daí? O que mudou? Nada. Ninguém mais fala nisso. É como se o problema tivesse se resolvido per si, mas sabemos que nada mudou na Birmânia, ao contrário, só piorou, pois o movimento dos monges foi duramente abafado.

Temos uma invasão no Iraque por uma """coalizão""" internacional por causa, antes de tudo, violações de direitos humanos. Ora, ora, o que se passa na África há 50 anos é o que? Mas achacar um país com poderio militar limitado é fácil e conveniente pelo petróleo e pelo controle do poderio bélico na região.

Mas e a China? Há anos desde a Revolução de Mao tem sido um polo de desrespeito aos direitos humanos, só que todas as outras nações olham para o lado mais fácil, o outro, o vazio. Desde o início da invasão no Tibet, ingleses, franceses e americanos ignoraram as súplicas do Dalai Lama por apoio e agora vem com pedidos medíocres de moderação. Se milhares, senão milhões de monges foram assassinados nestes 50 últimos anos, se centenas de templos foram queimados e destruídos, todas as nações do mundo que viraram as costas para o Tibet são responsáveis. A única nação que estendeu a mão ao Tibet foi a sempre compassiva e multi-cultural Índia, que mesmo vivendo seus próprios problemas internos com etnias, revoltas e probreza, acha lugar para ceder espaço aos que necessitam.

Se há um levante no Tibet hoje é porque paciência, mesmo budista, tem limites. A dor tem limites. A angústia tem limites. Um tigre acuado é o pior animal que existe e não adianta vir com chavões de que somos budistas e jamais se esperaria uma atitude dessas de um budista. Ora, faça-me um favor. O presidente americano é cristão e eu jamais esperaria que ele reavivasse as cruzadas medievais em pleno século XXI!

Essas mesmas nações que viraram as costas ao Tibet quando SS, o Dalai Lama (se escreve com letras maiúsculas e a imprensa cisma em escrever em minúsculas. Papa se escrece com maiúscula, logo Dalai Lama também) são as reais responsáveis pelo massacre atual da população e pelo genocídio cultural sofrido pelo Tibet. A China está fazendo o que sempre fez: o que quer, em nome de seu progresso duvidoso, a base de clonagem tecnológica e economia barata. Estamos alimentando o monstro chinês a cada peça fabricada por esse país que compramos, a cada viagem que para lá fazemos, a cada acordo comercial que é assinado. No fundo, nós todos somos culpados pelo que está acontecendo por lá.

Estou vendo várias iniciativas de protestos em várias capitais brasileiras, mas nem isso conseguimos fazer direito, não há coordenação, não há rostos. Temos que saber protestar e se todos apoiam a China por causa de sua economia, o melhor protesto é justamente por aí: PAREM DE COMPRAR PRODUTOS CHINESES! Recusem-se a usar marcas que tem suas fábircas na China que de maneira ou de outra financiam o terror no Tibet e em outras regiões. Ora, por que ninguém é oprimido em Hong Kong? Ou em Taiwan? Por que geram lucros para a China. O protesto válido é o protesto economico. Mas para isso temos que ter coragem.

Eu por exemplo, fiquei anos sem comprar qualquer produto da Nike e da Rebook pois estes compravam matéria-prima de fábricas que "alugavam" crianças para trabalhar nelas em regime de escravidão. Sabe como estas marcas baniram essa prática? Porque pessoas conscientes pararam de compra-las e suas vendas ficaram comprometidas. Hoje a responsabilidade social de ambas está no topo das melhores do mundo.

Somos humanos e como tal tendemos à passividade dos semi-deuses. Prefirimos a paz ignorante do que a sabedoria conquistada. Posamos de budistas, mas não agimos como tal, porque confundimos tolerancia com permissividade, com passividade e não é nada disso.

Buda nos ensinou que a intenção é a parte válida da ação e que somos todos seres interrelacionados através de uma teia social tecida pelos efeitos das ações de cada ser humano individualmente. Pois então, tenhamos uma ação definitiva em relação a questão tibetana, atacando a origem e não o efeito. Se levantar e atirar um ovo num prédio chinês não é protesto, é falta de educação, a ocupação no Tibet tem que ser atingida no seu âmago: a economia.

Se nosso presidente que tanto defende as minorias em nosso país, mas se lixa para as minorias dos outros países, reconhece o poder chinês sobre o Tibet por causa dos acordos comerciais entre esses países, nós como consumidores podemos melar isso. É só pararmos de comprar produtos, como brinquedos, relógios, roupas. Se ao invés de irmos a 25 de Março e alimentarmos a economia chinesa (sim porque, lá não estamos alimentando a nossa), paguemos mais por coisa melhor e ajudamos duas causas, a brasileira e a tibetana.

Outro ponto boicotar as Olimpiadas não é a meta. As Olimpiadas na China são a consequencia e não a causa. A causa são os que votaram a favor da China, esses sim, são os culpados. Que culpa tem os atletas que já sofrem no nosso país para poderem treinar, muitas vezes com subsídios vergonhosos do COE e do governo? Esses também são vítimas. Se for assim, temos que boicotar todas os eventos que vão ocorrer nos países que não estenderam a mão ao Tibet, inclusive a Copa do Mundo de 2014 no Brasil, porque nosso portentoso e intelectual presidente em sua viagem à China, no primeiro evento oficial, assinou um tratado garantindo que o Brasil reconhecia o Tibet como parte integrante da China, logo somos todos culpados.

Não podemos agir com Materialismo Espiritual em questões desse tipo, estamos lidando com pontos economicos que vão além do valor da vida humana. Convido vocês a conhecerem a realidade africana de Mali, Burkina Faso, Nigeria. São países esquecidos, assolados por guerras civis, justamente porque foram """colonizados""" por europeus que assim que deixaram esses países, as guerras tribais tomaram seus lugares novamente.

Volto a reafirmar: a cada produto chinês comprado no mundo, estamos pondo uma bala em um fuzil no Tibet.

Namo Amida Butsu!