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Por isso esse blog possui esse nome... Jigoku No Sora,
o Teto do Inferno

"Esse eu insensato, que tem tão pouca chance de salvação, é totalmente incapaz de resistir a desejos intensos e comprometimentos, a essa sucessão de dias e noites, inegavelmente reais, passada sob o constante tormento das ilusões monstruosas; isso é o inferno." - Hiroyuki Itsuki

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5 de novembro de 2012

Ventos da Impermanência 2

Neste último dia de finados foi o 13o aniversário de morte de meu avô, um grande cara, um grande amigo, que sempre me incentivou e se orgulhava de todas as minas conquistas. Sarcástico, mas muito engraçado, se interessava por ciência, cotidiano, voleibol na TV, jogos do Palestra, vinho e uma cachacinha de vez em quando. Até hoje sinto grande saudade dele! Contudo, nesta data se comemorou 13 anos que concebemos nossa segunda filha, sim isso mesmo, na noite que ele morreu a mais de 400km de onde estávamos e sem sabermos ainda das notícias, nossa filha era concebida.  Uma troca. Uma vida acabara de ir-se e outra voltava, realizando assim o grande ciclo da vida no Samsara.  Claro que como budista cheguei a pensar que talvez meu avô tivesse voltado nela, mas o karma prega muitas peças em nós e qualquer garantia disso é nula. Hoje em dia vejo que minha filha tem mais chance de ter sido alguma pessoa oriental na outra vida do que meu avô, com certeza.  Apesar que o sarcasmo e as tiradas hilárias são as mesmas!

Mas nestes último dia de finados, os ventos da impermanência sopraram na família novamente: uma priminha de pouca idade, 2 anos, faleceu no interior. Ela e a irmã mais velha de 5 adquiriram uma bactéria desconhecida, a mais velha venceu mas a mais nova não resistiu a batalha pela vida. 

Minha mãe me liga desesperada, aos prantos, pois embora o contato com os primos fosse muito distante, ela se sentiu tocada pelo fato, pois ela havia perdido um irmão de 2 anos na sua frente, quando ela tinha os mesmos 4 anos, em um acidente com uma floreira que virou por cima da criança. Parece que todo esse passado voltou a tona na mente dela que me ligou em busca de conforto, se é que há algum em uma hora dessas, queria saber como o Budismo via isso. Detalhe interessante, ela frequenta a catedral anglicana.

A grande questão da minha mãe era que meu tio de 90 anos há 2 semanas caiu, quebrou um fêmur, colocou uma protese e está em casa. Minha prima, 2 anos, contraiu uma doença e morreu. Afinal que justiça é essa que mantém vivo alguém que já teve a vida feita e ceifa os primeiros anos de um criança?

Comecei dizendo a ela que sob a ótica budista aquela pessoa "estava" criança mas que já tinha sido um adulto em uma outra vida. Ficamos chocados com o que acontece com um ser indefeso mas nos esquecemos que esse ser já foi criado, adulto, viveu, talvez tenha casado, com família ou não, tivesse sido um deliquente, um marginal ou um sacerdote, não importa. Não importa o que tenhamos sido, o que importa é que agimos, fizemos muitas coisas na vida e vamos colher as consequências delas por anos a fio. Algumas vem em questão de minutos ou horas, outras em algumas vidas. Nunca saberemos.

Tudo o que fazemos cria nossos alicerces para nossos próximos dias ou horas ou anos ou vidas e esses alicerces podem ser firmes e nos conduza por muitos anos como seres humanos ou podem ser frágeis. Mas não há culpa, apenas constatação. Uma criança não tem culpa, ela só colheu os frutos de uma vida passada. Um velho de tantos anos também não tem culpa pois também colhe o que foi plantado e neste caso, falamos de uma pessoa que também enterrou um filho suicida, que também sofreu a dor dilacerante de ver a ordem natural da vida se inverter e ter que ver um filho partir.

Mas nisso há um lado positivo, pois o fruto do karma quando se manifesta se extingue, então nos livramos desse peso e vamos com pelo menos um "problema" a menos para nossa próxima existência.

Dificilmente um ensinamento vai diminuir a dor de perder um filho. Deve ser algo que nos dá vontade de arrancar as vísceras de tão desesperador. Mas podemos pelo menos tentar compreender e aos poucos quando a vida retoma as rédeas, vamos lapidando esse sentimento.

Namu Amida Butsu!

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