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Por isso esse blog possui esse nome... Jigoku No Sora,
o Teto do Inferno

"Esse eu insensato, que tem tão pouca chance de salvação, é totalmente incapaz de resistir a desejos intensos e comprometimentos, a essa sucessão de dias e noites, inegavelmente reais, passada sob o constante tormento das ilusões monstruosas; isso é o inferno." - Hiroyuki Itsuki

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8 de maio de 2012

Materialismo Espiritual Vergonhoso

Ontem mesmo havia lido esta matéria no Estado de São Paulo sobre o exemplo de compaixão que os estrangeiros andam dando na China., segundo a reportagem, país este cujos habitantes não ligam para os problemas alheios, esquivando-se do auxílio de desamparados nas ruas ou em situações de emergência.

Pois bem, nosso país não está nem um pouco longe disso e vivi isso na pele hoje.  Indo trabalhar vejo um rapaz demaiado na calçada. Bem vestido, de calça jeans nova, tenis de marca, camisa pólo. As 10 horas da manhã.  Claro que havia um problema ali e na calçada de uma rua movimentadíssima, caminho de muitos executivos para seus escritórios e mães levando crianças para a escola. Pela posição do rapaz, deveria estar ali há algum tempo e absolutamente ninguém parou para acudi-lo!!!!

Parei o carro imediatamente, desci e fui tomar o pulso do rapaz, completamente desacordado, pulso fraco, não respondeu a nenhum estímulo. Então vi uma moto da polícia, a qual parei e relatei o que tinha visto e chamamos uma ambulância.  Neste instante então param outros para ver, para dar palpite e os 3 homens em um bar em frente então vem dizer que "não sabiam o que fazer". "Chamaram uma ambulancia?", se fizeram de desententidos.

Passados uns 10 minutos, o rapaz esboça reação. Responde minhas perguntas com a cabeça, desperta aos poucos. Claramente, tinha problemas mentais e era mudo, não conseguia se comunicar direito e não conseguia explicar o que tinha acontecido. No máximo 21 anos. Devia morar por ali e teve um mal subito, poderia ter aberto a cabeça e sangrado até morrer, ou se atravessava a rua, poderia ter morrido atropelado.

E quem parou? Ninguém!!!!! NIN-GUÉM!!!!!! Quantos carros na frente do meu passaram ali 10 minutos antes de mim? 40? 50? E ninguém tem a decência de acudir um semelhante? Quantos dessas no mínimo 150 pessoas que passaram por este coitado se gabam de ter um caminho espiritual em seus domingos de cânticos e desejos de paz?

Amigos, nossa espiritualidade não estão nos templos, não estão nas nossas preces, mantras, meditação ou recitações do nome de Buddha.... nossa espiritualidade não está no estudo dos sutras, bíblias ou textos sagrados... nossa espiritualidade não está no dana, nas doações, ou na pose de samaritano nas creches e asilos... nossa espiritualidade não está na invocação de um deus, nem na conversão de outrém ou na salvação alheia....

NOSSA ESPIRITUALIDADE ESTÁ NA COMPAIXÃO COM O PRÓXIMO! ALI, TÃO SIMPLES QUANTO ESTENDER A MÃO PARA QUEM CAI! TÃO SIMPLES QUANTO ACUDIR UM IRMÃO.

Por todos os Buddhas e Bodhisatvas de todas as eras e direções, onde estamos? Somos todos materialistas espirituais imbecis que não damos a mínima aos problemas alheios em prol dos nossos próprios, mas estamos nos templos e centros de Dharma recitando sutras, sadhanas e mantras... ora, ora, ora...

Desculpem o desabafo, mas foi um dia de indignação....

Deixo aqui um conto Zen para que reflitamos....

"Dois monges caminhando por uma estrada avistam um escopião se afogando em um poça d'água. Um dos monges se agacha e retira o escorpião da poça, tomando uma ferroada.  O escorpião então volta para a poça e passa a se afogar novamente. Então, novamente o monge o retira e o coloca mais longe, não sem antes tomar outra ferroada que lhe provocava uma dor lascinante. Sem esperar, o escorpião volta para a poça e incessante o monge o retira novamente e leva para um terreno seco, sem chance de retorno. Com isso tomou mais algumas ferroadas deixando sua mão inchada e uma dor incrível o dominou. Desesperado o outro monge corre ao encontro do seu parceiro, perguntando: "Por que continua tentando salvar este animal sabendo que ele vai voltar para a poça e ainda irá lhe ferroar toda vez?".  Diante disso o monge se contorcendo de dor responde: "Caro amigo, a essência do escorpião é ferroar quando se sente ameaçado. A minha essência é salvar todos os seres!"

Namo Amida Butsu!

Um comentário:

  1. Shame on me.

    Ate hoje sinto-me arrependida de certa vez ter passado ao lado de uma pessoa necessitada e ainda assim nao fiz nada pois "iria perder meu ônibus para o trabalho". Quanta "pequenez" de minha parte...

    Já comentando o conto, certa vez li uma adaptação em que o segundo monge se aproxima com uma folha larga e com ela retira o escorpião da água e diz ao amigo que não é necessário que ele seja ferido pela natureza do escorpião enquanto ele próprio age de acordo com sua natureza (ou algo parecido).

    Somos cada um, um e apenas um, mas se cada um fizesse um pouquinho, seria tão bom o todo...

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