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Por isso esse blog possui esse nome... Jigoku No Sora,
o Teto do Inferno

"Esse eu insensato, que tem tão pouca chance de salvação, é totalmente incapaz de resistir a desejos intensos e comprometimentos, a essa sucessão de dias e noites, inegavelmente reais, passada sob o constante tormento das ilusões monstruosas; isso é o inferno." - Hiroyuki Itsuki

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20 de maio de 2013

Comidinhas em Nara e a Adorável Uji


Avenida de Entrada do Todaiji
Na ida para o Todaiji passamos por uma avenida cheia de restaurantes e lojas, mas uma chama a atenção: uma fábrica artesanal do mochi! Mochi para quem não sabe é um bolinho feito de arroz glutinoso que necessita ser "marretado" durante um bom tempo para ficar bom. Aparece muito na TV quando da Festa das Flores (Hanamatsuri) do bairro da Liberdade em São Paulo, na ocasião que políticos oportunistas aparecem, dão duas socadas na massa e desistem! 
Fábrica de mochi em Nara
Bem, essa fábrica produz na minha opinião o melhor doce do Japão! Tá bom, tá bom, só experimentei uns poucos por lá, mas já comi muito aqui e aquele mochi era um néctar dos bodhisatvas... misturado com macha (chá verde em pó) e recheio de feijão azuki, ele vem quentinho, mole como como mousse e desmancha na boca com um gosto leve como uma flor de cerejeira. Acho que nunca mais vou comer um mochi aqui no Brasil, pois seria uma ofensa com esse de Nara e não me sinto na posição de contrair tal dívida de sangue!

As barraquinhas continuam pela rua de entrada do Todaiji tem odores inebriantes. Lulas sendo grelhadas, bolinhos de polvo (takoyaki), brotos de bambú com molho agridoce sendo aquecidos, dorayaki (uma panquequinha com doce de feijão azuki dentro), okonomyaki (panqueca "resto de geladeira") e espetinhos de carne de porco agridoce criam uma atmosfera gastronomica impossível de resistir, mesmo porque com US$10,00 dá para fazer um banquete.
Jean e Sandro no Parque das "Gazelas"

E foi o que fizemos: um piquenique! Compramos várias dessas coisas (alias, todas as acima!) e sentamos na grama para comer e tomar chá, junto com dezenas de outros comensais. Foi divertidíssimo. O parque é limpíssimo, bem como a rua das comidas, NADA no chão e quando digo NADA é NADA na mais profunda concepção. O Japão é limpo... e silencioso... mas isso são dois posts especiais que sairão daqui a pouco.

E assim nos despedimos de Nara, passando pelo parque dos veados (animais! rs) onde se encontra centenas deles, totalmente domesticados com praticamente nenhuma cerca separando-os do trânsito ou das pessoas. A diversão óbvia é alimentá-los! A criançada pira (e certos adultos também!).

Voltamos para a estação de trem, passamos no supermercado estrategicamente posicionado embaixo dela, carregamos a mochila com mais umas comidinhas e mais chá e seguimos de volta para Kyoto. Eram quase 17 horas e saibam que o Japão fecha as 17 horas!

Bem cansados, discutindo onde iríamos jantar, se íamos para o albergue, já dentro do trem, o Jean anuncia: "Gente, conheço uma casa de chá em Uji que por poucos yen podemos participar de uma pequena cerimônia do chá de 30 minutos. Mas não sei que horas fecha, provavelmente as 17 horas." - Descemos em Uji! E corremos para a tal casa de chá, a qual já estava....fechada, óbvio! Mas Uji nos reservava algo a mais do que a casa de chá fechada: o Templo Byodo-in e uma experiência sinistra...

Rua dos produtores de chá em Uji
Mas antes, deixem eu descrever Uji para vocês.

É uma cidadela que vive da produção artesanal de chá verde então não preciso dizer que TUDO na cidade gira em torno da deliciosa erva. Uma rua inteira de lojas de produtores de chá se estende da entrada da cidade até o Byodo-in, uns 5 quarteirões, lado a lado vendendo suas produções com pouca ou nenhuma industrialização. Sem falar no odor de chá verde torrado (hochi-cha) que se espalha pela cidade e é delicioso. A torrefação é manual e contínua, o que vai te dando uma vontade imensa de tomar litros e litros da bebida.

Glicinias

Outro detalhe da cidade: as glícínias! Em cada casa ou estabelecimento havia um vaso dessa flor linda, pequena mas seus cachos se fazem lindos quando pendentes de seus caules tipo trepadeira. A cidade cheira a chá verde e se cobre de glicínias que para nossa fortuna, estavam no auge de sua floração. Quando saí do Brasil lamentava que havia perdido a "Sakura Zensen", a famosa "frente das cerejeiras" que vão florescendo de Kyushu (sul) a Hokkaido (norte) e que duram poucos dias. Mas Uji nos ofereceu sua glicínias que, sem querer destronar as maravilhosas cerejeiras, não se deixam inferiorizar em beleza, volume e perfume.
Mais glicínias


Uji é uma cidade e tanto. Digo que moraria nesta cidadezinha com a maior tranquilidade. ah! esqueci de dizer que ela é cortada por um rio muito charmoso, com uma calçada que o ladeia, cheio de restaurantes e estabelecimentos. Um charme, sem dúvida.

Também, em homenagem a Reva Sayuri Tyô-Jun e ao Rev. Ricardo Mário, cito que Uji é a cidade natal da primeira novelista do mundo, "Murasaki Shikibu. Autora de Tales of Genji (Genji Monogatari escrito por volta do ano 1000.O primeiro romance épico do mundo. Era uma dama da corte, nessa época poucas tinham acesso ao estudo." (texto da Reva. Sayuri Tyô-Jun.
Túmulo de Murasaki Shikibu a beira do rio

A pequena e singela Uji com seu rio, suas glicínias, seu odor adorável de chá torrado, seu rio calmo é uma das cidades mais aconchegantes que já visitei em todo o mundo. Uma cidade charmosa que me deixou saudades... gostaria de me hospedar lá, ler o Genji Monogatari sentado a beira do rio, bebendo um hochi-cha quente, numa tarde de outono, com um cobertor sobre as pernas, um cachecol em volta do pescoço, vendo as folhas de bordo mudarem de cor, do verde para o vermelho e, então, para o amarelo antes de caírem ao chão...ai ai...

Bom.... mas tem o Byodo-in...




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