Por isso esse blog possui esse nome... Jigoku No Sora,
o Teto do Inferno
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19 de novembro de 2008
Dana - Doação Espontânea
12 de novembro de 2008
Eleições
Há duas semanas, acompanhei o pessoal da (antiga) 8a. série (atual 9o. ano) da escola das minhas filhas, um uma visita ao Betsuin (sede do Honpa Hongwanji em São Paulo). Já é o segundo ano que essa visita acontece, pois essa moçada pesquisa sobre ritos de passagem nas sociedades e nas religiões, pois eles estão vivendo um momento de transformação, sendo que vão para o colegial e depois, em três anos, para uma faculdade.
Em minha paletra para cerca de 10 alunos, comecei dando meu testemunho sobre a pressão que sofremos da família, sociedade e amigos para encontrarmos uma profissão, um caminho a seguir. Falei sobre a total incoerência desta atitude com os princípios budistas, que afirmam que temos que viver no presente para poder constuir um bom futuro. Disse a eles que logo entrei em engenharia após o 3o colegial, mas olhando para trás vejo hoje em dia que teria feito outra coisa, como gastronomia, por exemplo.
Então o grupo cheio de curiosidades, levou o assunto para karma e Iluminação. Então, comecei a falar sobre o não-julgar, como a maneira de se não gerar pegadas por onde passamos, não gerarmos consequências de nossas ações. Recebi a seguinte pergunta: "Mas se não devemos julgar, como votamos? Como escolhemos um prefeito?". Foi aí que me dei conta que muitas vezes as pessoas votam por empatia e não na competência do candidato e que estes candidatos passam por um "julgamento" público e não necessariamente por uma escrutinação. Mas achei a pergunta ótima.
Passei a explicar que não devemos votar por aversão ao outro canditado ou por simples simpatia, temos que analisar as propostas de cada um e ver o quanto elas se alinham com as necessidades de nossa cidade. Votar em um ou outro candidato com consciência não é, necessariamente, um julgamento e sim uma escolha concreta e racional, pois votar em fulano porque é meu vizinho, ou frequenta a mesma igreja ou deixar de votar pelos mesmos motivos são casos vívidos de julgamento, de apego e aversão.
Em São Paulo, uma das candidatas era budista, não votei nela. Seu programa, a meu ver, não se encaixava em uma cidade como São Paulo. Poderia ter votado sem pestanejar simplesmente por termos a mesma convicção religiosa, mas só isso é necessário para governar um "país" como São Paulo? Eu achei que não.
Logo, não podemos confundir escolhas estruturadas com paixões mundanas. Como também não podemos achar que vamos parar de julgar tudo e todos da noite para o dia, porque se fosse fácil, ninguém ía precisar de prática nenhuma para se atingir a Iluminação.
Namo Amida Butsu!!!!
7 de outubro de 2008
Bolsa de Valores e Budismo Combinam?
11 de setembro de 2008
Acelerando o passado
9 de setembro de 2008
Dois Pesos, Duas Medidas
Faz tempo que não escrevo aqui. Muito pelo meu trabalho e uma obra que estamos fazendo em nosso imóvel. Mas gostaria de iniciar este artigo agradecendo os que tem usado meus textos como referências para a explicação do Dharma, em outros sites, listas e Orkut.
O engraçado (será?) é que volto a um tema que falei sobre no artigo abaixo: alucinógenos. Antes de entrar no tema quero deixar claro que independente de qualquer opinião sobre se determinada droga é mais nociva que outra, o Quinto Preceito ditado por Buda é claro: "não se deve fazer uso de qualquer substância que altere o estado de consciência". Logo, um budista, deve antes de tudo, tentar seguir, no mínimo, os Cinco Preceitos, ou pelo menos, propaga-las no meio onde vive.
Tenho acompanhado com interesse o desenrolar das campanhas para a prefeitura de São Paulo, justamente para verificar as propostas sociais de cada um deles. Não pretendo entrar em assuntos políticos, nem tão pouco fazer proselitismo pois não faz parte de minha natureza e não é permitido por lei (isso mesmo, a justiça eleitoral está censurando blogs com qualquer informação de candidatos). Por isso não posso escrever o nome do canditado ou candidata com o qual estou extremamente decepcionado. Não posso revela-lo até que se passem as eleições.
Bem vamos ao assunto. Estava lendo o site de um jornal de São Paulo, no qual apresentava-se uma sabatina com um ou uma canditata à prefeitura, no qual eu li a seguinte frase: “LEGALIZAÇÃO DA MACONHA - Há muito tempo eu não fumo, mas a minha opinião continua a mesma. Tenho a convicção de que, se o comércio fosse legalizado, normatizado, controlado, o dano para a sociedade seria menor do que o dano decorrente do fato de o comércio ser ilegal.”
Ora, sendo essa candidata uma budista declarada e atuante fiquei muito surpreso com tal afirmação, nem tanto pela afirmação em si, mas pela ênfase dada ao assunto mais uma vez e sua contínua insistência de violar os Preceitos Budistas, em público. Fiquei impressionado, porque não vi ou ouvi qualquer manifestação desta candidata em relação aos massacres de tibetanos, ou a falta de liberdade na China ou sobre o massacre de monges na Birmânia. Tendo fácil acesso àmídia, às tribunas da Câmara e a imprensa da qual poderia fazer uso para alertar a população sobre tais fatos, ou mesmo as autoridades federais brasileiras, mas infelizmente não vi nada disso. Mas quando o caso é legalizar uma droga, os microfones se abrem. É lamentável!
É também lamentável que tal candidata passe em cima de suas convicções religiosas para ocupar um cargo público, uma vez, que nunca vi uma declaração de sua posição religiosa ou sua manifestação sobre ítens importantes para nós budistas, tais como as pesquisas sobre células-tronco, aborto, vida saudável, como se andar de bicicleta fosse a solução de todos os problemas da população, em um tempo que vivemos uma crise ética de corrupção de valores morais.
É justamente neste cenário que leio sobre "legalização" de uma droga. Libera-se a maconha, depois a cocaína, o crack e assim por diante.
Não quero parecer demagogo, nem hipócrita. Bem, hipócrita não sou pois nunca pus nem um cigarro de tabaco que seja na minha boca, muito menos qualquer tipo de droga, mas essa energia demonstrada pela tal candidata deveria ser canaliza para promover ítens positivos que possam ser útil à sociedade. Com certeza, comprar maconha no boteco da esquina não está nesta lista.
O que poderia ser uma imagem importante para nossa religião, para termos um representante que prime pelos valores budistas em uma posição de destaque na política, para justamente irradiar tais valores por onde passasse, em seus discursos, atitudes e principalmente projetos sociais, acabou se tornando uma decepção total. Uma oportunidade perdida.
Mas... cada sociedade tem os políticos que merecem...
Sarva Bhantu Margalam!!!
2 de julho de 2008
Budismo e Alucinógenos
Bom, vou ser curto, direto e incisivo neste assunto: O USO DE DROGAS DE QUALQUER TIPO VAI CONTRA TODOS OS ENSINAMENTOS BUDISTAS!
Simplesmente porque não há qualquer relato do uso de drogas ou alucinógenos por Buddha e eles existiam e eram usados por outros religiosos na época e o último dos Oito Preceitos diz que não se deve embriagar com qualquer substância (para não infligir sofrimento aos outros).
Se uma pessoa quer usar drogas ou alucinógenos, ela é livre para faze-lo, mas não venha dizer que isso está relacionado com a prática budista, porque definitivamente não está.
Se existe alguma dúvida sobre a conduta de um ser humano, não precisa recorrer a um monge ou um professor de Dharma, simplesmente leia os Sutras, veja o que Buddha disse sobre o assunto e então busque as explicações de mestres qualificados.
Mas uma coisa é certa, existe vasta literatura para se acessar sobre os malefícios de drogas e alucinógenos e não me venham com o papo de que alguns são "naturais". Só para lembra, ópio, cocaína e maconha, são naturais....
Namo Amida Butsu
30 de maio de 2008
O Dono da Terra: Metáfora Sobre o Renascimento
Essa pessoa então me perguntou sobre o renascimento. "Afinal, quem ou o que renasce?"; "Renascimento ou Reencarnação?"; e como tenho uma visão didática para explicar isso, resolvi colocar aqui e deixar para todo mundo. Aí vai...
Imagine um pedaço de terra. Um sítio ou uma chácara. Com cercas, mas ao mesmo tempo integrada com seus vizinhos, como em um condomínio. Imagine, uma porção de terra cercada, com o solo com algumas plantinhas, mas sem nenhuma construção. Pode colocar uma árvore onde você quiser e algumas flores para ficar bonitinho, se preferir.
Pois bem. Agora imagine que você herdou essa propriedade, do jeito que a deixaram, pois simplesmente o último dono, que podia ser seu parente, a deixou para você, com todas as benfeitorias, plantações, dívidas e problemas, também.
Então, imagine-se encostado na cerca, olhando a paisagem e pensando no que poderia fazer com aquele pedaço de solo. Como tudo na vida, você pode simplesmente não fazer nada, ficar ali parado vendo o tempo passar e ver o mato crescer, a árvore dar frutos, as plantinhas florescerem. Porque essta terra, vai ter seu ciclo com ou sem sua interferência.
Mas digamos que você resolve interferir e começa a lidar com a terra. Ara de um lado, gradeia do outro (meu pai tem uma fazenda, é por isso que conheço os termos!) e finalmente resolve fazer uma pequena plantação de milho, que seja. Do outro lado, você semeia árvores frutíferas, umas dez ou doze e na outra ponta constroi um pequeno casebre.
Depois de um tempo, no meio da plantação de milho aparecem alguns pézinhos de feijão. "Mas que coisa estranha!", pensa você. "Eu só plantei milho. Como pode?" Com um pouco de trabalho, você retira os pés de feijão que estavam invadindo seu terreno, só que onde tinha feijão, o milho não nasceu.
Já, do lado do pomar, nem todas as árvores frutíferas germinaram, mas as que se desenvolveram geraram sombra e alimento que garantiu sua subsistência por algum tempo e também lhe garantiu relacionamento com seus vizinhos, pois eles usavam parte do adubo que você gera com as cascas das frutas e os sabugos de milho. Ao mesmo, tempo, sendo que suas terras não tinham água suficiente, você utilizava o poço artersiano de seu outro vizinho. Criando assim, uma relação simbiótica. Interdependente.
Um belo dia, ou não tão belo assim, ao passar com seu trator sobre um monte de terra, abre uma cratera e de lá saem centenas de lagartas que passam a atacar seu milho e seu pomar. "Mas de onde surgiram essas lagartas? Há quanto tempo estavam aí? Porque foram aparecer agora?". Não havia muito o que fazer, além de combater os efeitos da ação das lagartas, uma vez que elas já estavam lá. Foi um período ruim, mas não foi nenhuma tragédia.
Depois de algumas décadas, você resolver partir. Buscar outra terra. E deixa esta que você trabalhou, da maneira que estava. Com sua plantação de milho, seu pomar e seu casebre. Então, você resolve doa-la a outra pessoa, que logo que você sai, ela toma posse dessa sua ex-gleba. E esse novo proprietário, da mesma maneira que você, começa a olhar para a terra e tomar decisões do que fazer: "Continuo com a plantação de milho? Acho que sim. E o pomar? Acho que vou plantar mais árvores. Água? Vou construir um poço, mas ainda mantenho a amizade com meu vizinho. E a casa? Não vou fazer nada com ela, que está bem assim." E o ciclo recomeça.
Nossa vida é a terra, o fazendeiro é nossa mente; a decisão de fazer algo, é nosso pensamento; a plantação, o pomar e o casebre são nossas ações; nossos vizinhos são a interdependencia que temos com todos os seres. As flores, as espigas de milho, as frutas são os resultados de nossas ações, nosso karma. As lagartas e os pés de feijão, são o karma que adquirimos de outras vidas.
Então, o que renasce? A nossa terra renasce, ou seja, ela continua do jeito que a deixamos, mas alguém diferente toma possa dela e assume os efeitos que deixamos lá, tomando suas próprias decisões, baseados em seus próprios julgamentos. Sendo que os resultados das ações desse novo proprietário irá modificar a terra para o próximo dono.
O que renasce é o resultado de nossas ações, pensamentos e palavras.
Espero poder ter ajudado!
Namo Amida Butsu!
30 de abril de 2008
Debate sobre a Questão Tibetana no Rio de Janeiro
É um evento que liga os políticos brasileiros à causa do Dalai Lama e umaoportunidade especial para nos manifestarmos e fazer diferença em favor dooprimido povo tibetano, reforçando a posição do Budismo Brasileiro em proldo exercício da não-violência e da paz, do diálogo entre povos e culturas, eo respeito aos direitos de todos os seres.Sendo necessário o maior apoio possível ao evento, solicitamos a todos osque deste tomem conhecimento que o divulguem em todas as listas públicas eparticulares, blogs e sites, convidando os budistas e simpatizantes com acausa tibetana a comparecerem ao Plenário da Câmara.Debate Público sobre a Questão TibetanaDia 12 de Maio às 10 HorasPlenário da Câmara Municipal do Rio de Janeiro - Palácio Pedro Ernesto -Praça Marechal Floriano, s/n, Cinelândia, Rio de Janeiro.
Em nome do Dharma,
Prof. Maurício Ghigonetto (Shaku Hondaku)
Presidente
Membros Fundadores
Rev. Wagner Bronzeri (Shaku Haku-Shin)
Site Oficialhttp://www.honganji.dharmanet.com.br
Rev. Meihô Genshô
Site Oficialwww.chalegre.com.br/zendo
Dhammacariya Ricardo Sasaki (Dhanapala)
Site Oficialhttp://www.nalanda.org.br/
Prof. Claudio Miklos (Tam Huyen Van)
Site Oficialhttp://tamhaovan.multiply.com
Colegiado Buddhista Brasileirohttp://cbb.bodhimandala.com________________________
22 de abril de 2008
Amigos Caninos
Neste último feriado, cheguei ao canil e o Sadan, um American Stafforshire Terrier, de 30kgs, muito dócil, brincalhão e malandro, estava completamente petrificado. Não mexia as pernas, as orelhas repuxadas, olhos esbugalhados, um sorriso de desespero na face, devido ao retesamento dos músculos. Diagnóstico: tétano! Devido a um machucado na pata que ele teve há 2 semanas.
Foi de cortar o coração ver um cão tão ativo e amável totalmente paralisado, praticamente empalhado, fitando meu rosto como se pedisse, suplicasse, uma ajuda imediata. Pensei que o rápido atendimento lhe garantiria melhoras, mas ficou internado 2 dias e hoje está de volta ao canil, ainda bem paralisado, mas mesmo assim, tenta abanar o rabo quando me vê e tenta me lamber quando faço massagem nele.
Sadan é um guerreiro por natureza, como todo cão do tipo bull, que são raças criadas para não ligarem para a dor e serem afetuosos com seres humanos (agora mesmo, enquanto escrevo esse, o Prince, meu Staffordshire Bull Terrier, me cobre de lambidas no rosto), mas o futuro parace obscuro para esse meu amigo, pois embora os veterinários afirmem haver esperança para meu guerreiro, todas as pesquisas que fiz na internet apontam para um desfecho cruel: morte do animal.
Hoje cedo estive com o Sadan, me recebeu com euforia, embora só pudesse mexer a ponta do rabo, mas seus olhos amarelos me transmitiam alegria em me ver, pois colocou sua cabeça entre minhas pernas enquanto eu fazia massagem em suas orelhas. Sentei-me no box com o coquetel de remédios na mão, o trouxe para o meu colo, coloquei-os em sua boca e lhe massageei a garganta para que não engasgasse.... então abraçado aquele guerreiro canino de 30 kg, chorei pensando na possibilidade de perdê-lo. É duro ver um animal extremamente forte, robusto, nas condições dele. Naquele momento me passou pela cabeça acabar com aquele sofrimento de uma vez, afinal um guerreiro deveria ter uma morte austera, salvando alguém, ou defendendo outrém, mas Sadan estava ali, praticamente imóvel, com o corpo retesado, provavelmente com dores horríveis que não podiam ser expressadas.
Abraçado ao meu amigo, pensei em matá-lo, em tirar-lhe a vida para que não sofresse mais, na esperança que sua dor se extinguisse. Então, lembrei-me dos ensinamentos de Buda, que ninguém pode alterar o karma do outro e a situação que me encontrava era produzida por uma série de causas e efeitos e que tirar a vida de meu amigo somente solucionaria, quiçá, a minha dor e não a dele.
Então me lembrei que as vezes, por não suportarmos olhar para a Verdade, olhamos para o outro lado ou a compensamos com esperança. Mas o que é a esperança senão a ampliação da ilusão? Ontem eu tinha a esperança que Sadan ficaria bem, vi que era uma grande ilusão, pois ele piorou muito. Hoje estava desacreditado, mas o encontrei melhor, mas tinha na minha cabeça as pesquisas no Google que havia feito. Então, de nada adiantava ter esperança, pois o karma é implacável e o ego soberbo.
Quase tirei a vida de um dos meus cães por eu ser um covarde e não poder vê-lo sofrer, mas um guerreiro trava, também, batalhas internas e sei que ele está combatendo com veemência essa doença. Mas se Sadan tiver que ir embora, que vá tranquilo e que a breve vida nessa terra lhe gere méritos para retornar como um ser humano.
Claro que ficarei triste, pois sou também um ser humano e cães tem um amor incondicional, um amor selvagem, um amor irracional pelos seus donos, a ponto de darem a própria vida por eles sem hesitar. Mas nós seres tolos, achamos que somos os donos da Verdade e nos damos o direito de ter esperança e de achar que podemos mudar o karma alheio, nos colocando como superiores à Lei da Causa e Efeito... ledo engano.
Sadan, meu guerreiro, meu amigo.... força...
18 de abril de 2008
Quem é Amida? Uma Visão Ocidental
Para compreendermos quem ou o que Buda Amida realmente é, temos que levar em conta alguns aspectos e posturas, como seguem. O Budismo Shin é uma tradição budista e segue os sutras budistas, portanto temos que partir do pressuposto que ele passa uma mensagem budista e cabe a nós entende-la. Shinran Shonin (fundador da escola budista Jodo Shinshu) não era nenhum maluco e portanto merece credibilidade. Não sendo Shiran um louco, lembro que ele baseou a doutrina da Terra Pura em ensinamentos de 7 Mestres (Shichi Kozo) renomados do Budismo e anteriores a ele: Nagarjuna (dito o "pai" do Mahayana e criador da filosofia Madhyamika), Vasubandhu (criador da filosofia Yogacara), T´an Luan (mestre chinês que compilou vários textos e sutras da Terra Pura), Tao Cho (popularizou a doutrina da Terra Pura na China), Ch´an Tao, Genshin e Honen (que foi o grande professor, mentor e inspirador de Shinran Shonin).
Também temos que a figura do Buda Amitabha e de Amithayus (Amida em japonês e Amito em chinês) é unânime em todas as linhagens budistas, incluindo o Zen, o Ch´an e as escolas tibetanas portanto o Budismo Terra Pura não apresenta nada de novo, nem estranho à doutrina budista em geral, aliás muito pelo contrário. A única tradição que não possui este conceito é a Theravada.
Lembremos que no oriente, o uso de metáforas, alegorias e mitos para se explicar conceitos, arquétipos e fundamentos é largamente utilizado. Um exemplo: Avalokitesvara (Kannon em japonês e Kwan Yin em chinês) é representado como uma figura humana, mas não há indícios históricos que comprovem que ele definitvametne existiu, ou seja, é um mito. E muitos budistas recitam "Om Mani Padme Hung" que é o mantra de Avalokitesvara, que nunca existiu... logo, isto tb não é considerado "anti-budismo". Recitar um mantra não é confiar num "poder" que não é o seu?
Vamos também deixar dogmas e conceitos católico-cristãos de fora. Não dá para ficar comparando Budismo com Cristianismo, pois não dá para argumentar com dogmas e lembremos que Shakyamuni sempre utilizou métodos diferentes para explicar a mesma coisa para pessoas diferentes. Podemos dar uma explicação extremamente "técnica" sobre o assunto, mas querendo evitar tal prática, pretendemos tentar explicar de uma maneira mais coloquial, mais acessível a todos.
Muito bem, isto posto e entendido vamos lá.
É muito comum criarmos uma confusão mental quando tentamos entender um mito ou a personificação arquétipica tão comum na Índia e ocidente em geral, pois geralmente entramos em conlifto com nossas bases católico-cristãs. Você se sente assim? Bem-vindo ao time! No começo, tudo geralmente é muito estranho, mas sempre temos que ter em mente que estamos numa escola budista, logo tudo tem que ter uma lógica clara...
O Buda Amida, como Buda primordial, é a fonte, a origem de todos os Budas, mitologicamente falando. Imagine uma fonte de água do tamanho de vários universos, a fonte é o Buda e a água é o composto de sabedoria e compaixão, luz e vida. Esta água transborda pela fonte e é infinita, formando "poças" pelo Universo em que nos encontramos e em nossa existencia atual. Cada vez que pisamos nestas "poças" entramos em contato com a "mente búdica", a "mente pura" de Buda. Buda Amida é uma "entidade teológica personificada", segundo Rev. Prof. Ricardo Mario Gonçalves. É uma representação da Iluminação em si. Mas de nenhuma forma é um ser, ou um regulador, ou um juiz, ou um criador. Em nada se assemelha ao deus cristão. Ele não é a origem de tudo, ele é a representação da origem da comapixão ilimitada, tanto que no mito de Avalokitesvara, este nasce de uma lágrima de Amithaba.
Troque Buda Amida por "Iluminação" ou "Natureza Búdica" e releima os textos que falam sobre Ele. Acho que fica mais fácil assim! E troque "Terra Pura" por "Nirvana", vocês verão que as peças começam a se encaixar. E se vc encontrar a palavras "Shinjin" (Mente Confiante) troque por "Mente Búdica" ou "Mente Pura".
Muitos perguntam: Amida é uma figura a qual devo recorrer em momentos de necessidade? Olhem, na verdade, no momento de necessidade você só tem a si próprio e aos ensinamentos budistas. Não dá para recorrer a ninguém mais. Está conosco! Não podemos confundir com o deus cristão. O mito de Amida só pode nos oferecer o porto seguro do Dharma, mas ele não elimina karmas. Por favor, leiam o texto OCEANO que está aqui no blog . Acho que vão entender o que queremos dizer. Buda Amida não controla nada no Universo. Ele não existe! É uma metáfora! Uma metáfora, não pode controlar o mundo e não há divindade no Buda Amida, podemos rezar para ele o quanto quisermos e pedir para ele nos iluminar, mas não vai dar resultado.
Mas como não podemos nos iluminar sozinhos? Perguntariam alguns. Quando falamos em "poder próprio" estamos dizendo que se você senta para meditar, por exemplo, com o intuito de se iluminar você nunca vai conseguir isso, por que quem está no comando é o seu EGO e toda a filosofia budista está calcada na eliminação deste. Como vc vai se iluminar através de algo que você tem que eliminar? Leiam o texto OCEANO que é um texto que ilustra bem isso. E, olhem, isto não é exclusividade da Escola da Terra Pura no Budismo, não! Agora se você se senta com a mente limpa, sem pretenções, sem objetivos, apenas confiante que você pode chegar lá e tem a consciência de que para chegar lá você tem que se distanciar cada vez mais de seu objetivo, mas sempre confiando que isso é póssível porque várias pessoas já conseguiram desta forma, você chega! O próprio "querer se iluminar" é uma manifestação egóica, a Iluminação é uma consequência, não um objetivo e sendo uma consequência, não depende de você. Agora se passamos a ter a confiança (erroneamente traduzido por "fé") - SHINJIN - passamos a ver o mundo sem julgamento, ver o mundo com a MENTE BUDICA, e ver o mundo desta maneira, é ver a realidade como ela realmente é. É pisar na poça de Amida! Tanto que Shinran fala que basta recitar o nome de Buda Amida uma única vez, desde que que feito com a mente pura, mente búdica, mente confiante, Shinjin e estamos garantidos!
Agora isso não é exclusivdade nossa [Budismo Shin], olhem as thangkas (pinturas sagradas) tibetanas, na sua grande maioria Amitabha está lá. No Zen e no Ch´an é a figura central nos altares. Por que? Porquê todas as escolas tem este conceito, só que poucas dão nomes "aos bois" e centram seu ensinamento nisso de forma explícita. Peguemos o Ch´an como exemplo, praticam meditação, mas cumprimente um praticante Ch´an, para ver. Em vez de "Olá", ele vai te dizer "AMITOFO" que é "Buda Amida" em chines!
Se estamos todos interligados (fenômeno da interdependência) e todas as nossas ações são refletidas no universo, temos que nos integrar a isso, eliminando nossa mente dualizada (você já deve ter ouvido isso largamente pelos ensinamentos budistas) estamos eliminando o "NOSSO PODER", o Poder Próprio, Jiriki e dando lugar, ao PODER DO OUTRO, ou o poder unificado, Tariki.. De uma maneira simples, o "Outro Poder" é a ausência do EGO!
Então não podemos contar cosigo mesmo? Não! Você deve contar com você próprio para alterar sua visão do mundo. Todo o caminho começa com o nosso próprio poder, nosso ego, nossa vontade e depois vemos que ele não é suficiente, pois nosso EGO é nosso maior obnstáculo. Troque "Outro Poder" por "Ausencia de Ego" e veja o significado.
Várias pessoas acreditam que no budismo só podem contar consigo, que esse é o valor central do Budismo e que não devemos depender de um deus com o qual tenho que barganhar. Mas, como vamos barganhar com Buda Amida? Barganhar com alguém que não existe? Vai barganhar o que? Oferendas? Para quem? Mas, mesmo assim "devo me sentir dependente de um buda de luz infinita"? Não, não é dependência. É compreensão e garantia. Compreensão de que temos um EGO e garantia que podemos subjugá-lo e quando falo que não podemos nos iluminar sozinhos, quero dizer pelo nosso próprio esforço. Pq pessoas que sentam para meditar durante décadas não chegam a lugar algum? Buda só meditou 49 dias! Tem gente que medita por 25 anos e não sai do lugar. Por que? Por que fazem errado? Mas as regras da meditaçao são simples e claras, não tem erro. Quantas pessoas meditam no mundo todo? Há quanto tempo? E por que não teve nenhum Buda entre nós nos últimos 2000 anos? A meditação é um caminho tão válido quanto o Nembutsu (recomendo a leitura do livro "Budismo Essencial de Gyomay Kubose para maiores comparações), pois da mesma forma que muitos meditadores devotados aos seus atos não se iluminaram nos últimos séculos, tantos outros grandes recitadores do Nembutsu, também não lograram èxito! Por quê? Pq simplesmente é muito difícil se iluminar por conta própria, com todo a carga egóica que temos. Nossa mente é como um macaco pulando de árvore em árvore, estamos sempre julgando os outros e a nós mesmos, não conseguimos ver as coisas como são.
Não temos Mente Búdica!
O mito de Amida nos ajuda a compreender um conceito extremamente amplo e primordial, que se mostra de difícil absorção para os ocidentais, levando em consideração nosso passado arraigado aos dogmas cristãos e a visão judaico-cristã de um demiurgo que regula, julga e determina o futuro. Buda Amida não se apresenta nestas condições, nem com este papéis, é a simples "materialização" da origem de toda a sabedoria e compaixão existentes.
Namo Amida Butsu!
Uma Montanha Chamada Samsara
Mas podemos ver o samsara como uma grande e alta montanha, no pé da qual iniciamos nossa escalada meio sem rumo e sem direção, às vezes, descendo em vez de subir ou andando para os lados. A montanha é tão grande que podemos caminhar meses ou anos para uma mesma direção sem nunca chegarmos ao ponto de nossa partida. Seu cume é tão alto que o ar se extingue em suas dependências e a vista se perde muito antes de se chegar ao pico, onde nem mesmo as mais altas nuvens conseguem resistir a perenidade.
Seu interior maciço e denso jamais nos deixa perfurá-la. Tuneis são impossíveis de serem construídos e chegar ao outro lado pelo seu âmago significa passar por existências de mais sofrimento: são os reinos inferiores. Dentro da montanha vemos os animais no seu ciclo de sobrevivência da lei do mais forte, presos aos próprios instintos incapazes de determinarem sua prática, preocupando-se com a própria sorte. Devem se manter vivos.
Mais ao fundo da montanha, o alimento abunda mas a fome reina e os gritos de dor e abstinação ecoam pelo território dos fantasmas famintos, com suas gargantas ardendo em chamas ignidas pela presença do alimento em suas bocas. Mas a dor faz parte de suas vidas e sua conformação não lhes dá opção além daquela de lutar e guardar todo os alimentos possíveis e ficar tentando sorver ao menos gramas de migalhas incandecentes para aliviar os gemidos constantes de seus estômagos.
Nas profundezas desta fortaleza de minério encontra-se o mais baixo dos níveis, onde Ksitigharba desejou renascer para libertar os seres demoníacos que alí habitam num longa estada de dor física e lamentações. Seres na quantidade da poeira existente nos bilhões de universos que anseiam por dalí saírem o mais rápido possível, mas este egoísmo e esta angústia os prendem mais e mais ao inferno de suas emoções.
Imagina-se que chegar ao cume por cima seria uma grande chance de se libertar deste ciclo incasável, mas os devas não se importam com isto, muito menos os asuras já que têm tanto êxtase e tanto com o que se deleitar. Os deuses e semi-deuses estão em seu espaço sem forma permeando a atmosfera da montanha mas sem nunca alcançá-la, sem tocá-la, sem mesmo percebê-la. Que chance magnífica desperdiçam.
Escalar o samsara é feito somente para os humanos. Chegar ao topo desta montanha estrondosa por suas encostas é uma tarefa para os humanos, tão poucos como os grãos de areia debaixo de um única unha. Os humanos do Suha, nosso mundo, o mundo onde Sakyamuni renasceu e vem guiando milhões de discípulos.
A escalada é feita durante vidas e vidas. Uns caem dentro da montanha indo parar nos reinos inferiores outros dela saem para a luz do dia, mas os caminhos são diversos, entretando, tortuosos e cobertos de pedras, pedregulhos, grandes rochas.
Para quem está no pé, olhando para cima, vê-se várias opções de subida pelas encostas. Caminhos que parecem mais fáceis, outros que demandam mais técnicas. Alguns mais curtos a primeira vista, outros mais longos quando analisados do ponto mais baixo. Contudo, é o pico que eles almejam e para lá todos convergem. Para a Luz que emana do ponto mais alto e que parece impossível de se alcançar, para a Luz que ascende ao infinito do Universo e irradia pelo céu da manhã. É para lá que os caminhos levam.
Vê-se que estes se adaptaram e muitos humanos se adaptaram a eles, mas todos levam suas mochilas nas costas sem excessão. Presas ao corpo como se desse fizesse parte, como se desse nunca se separasse. Umas mais cheias, outras rasas. Para cada ação boa, os escalantes retiram uma pedra de sua mochila, a deixando leve e fazendo sua escalada mais fácil e mais simples. Para cada ação prejudicial a si próprio e aos outros, os humanos as colocam novamente nas suas mochilas. As pedras são proporcionais ao impacto de suas ações, um pedregulho ou uma grande rocha. De vez em quando a mochila pesa demais e um buraco se rompe no solo onde se pisa e faz com que o humano caia dentro da montanha, caia para os reinos inferiores. Mas, como dissemos, a mochila pode ficar muito leve fazendo com que em humanos e outros seres inferiores se transformem saindo deste buracos para continuar a jornada montanha acima. Pedras colocadas, pedras retiradas, por vidas e vidas, esta é a Lei do Karma.
De repente, vemos uma pessoa com a mochila vazia que aproveita o instante e corre, corre com todas as suas forças. Lá vai um Mestre, rumo ao topo. Desvia-se das rochas, sente o caminho, encontra atalhos. Vê as pegadas de outros que o antecederam, poucos acham estas pegadas, gastas pelo tempo, escondidas pelo ego.
Lá vai um Mestre. Há poucos destes, um a cada muito tempo. Vários o tentam imitar, largam as mochilas, achando que se livrarão das pedras. Ledo engano. Se perdem, acham barreiras de pedras e não tem onde colocá-las, não tem como se livrarem delas. Voltam ao ponto de partida e colocam uma nova mochila nas costas. Tudo de novo.
Lá vem um Mestre. Ele chegou ao topo, encontrou a Luz, viu a Verdade. Viu a si próprio e encontrou com aqueles que decidiram serem guias, serem uma bússola para os que tentam subir e os que tentam emergir de dentro da montanha. São exemplos. Alguns decidem ficar ali observando os que sobem, outros movidos pela sua bondade e compaixão exacerbadas decidem descer novamente e começar tudo de novo. Mas a Luz é internalizada e nada é esquecido. A realidade passa a ser pura e o instante, infinito. Ele ganha uma mochila diferente, uma que tritura as pedras que ali são colocadas e eliminam seu cascalho em forma de pó de diamante. Ele volta para ensinar aos que sobem os melhores caminhos, para apontar onde há menos pedras, pois menos onde há menos ações negativas para serem pegas, mais chance de subir, em menos tempo. Caminhos mais limpos. Caminhos mais livres. Caminhos mais claros.
Os nomes destes caminhos limpos são vários, chamam-se a Rota dos Preceitos, a Encosta da Ética, a Trilha do Vinaya. Quanta pureza nestes caminhos. Os Mestres os conhecem bem e tentam mostrar isto para aqueles que escalam, tentam desenhar o mapa, mostrar a trilha. Mas, caminhos são caminhos, e alguns acham que onde há mais pedras há mais segurança, há no que se agarrar e uma mochila mais pesada pode mostrar mais superioridade. “Eu tenho mais pedras do que você!”, exclamam alguns, mas o Mestre está ali, ouve e fica contente. Mais gente para ajudar.
Há Mestres em todos os caminhos. Eles os conhecem, eles os desenham e cabem a nós seguí-los ou lançar-nos a nossa própria sorte. Eles já chegaram ao topo e querem nos auxiliar a trilhar os caminhos certos, a carregar menos pedras. Eles retiram sem que percebamos várias pedras de nossas mochilas e colocam na sua própria para serem trituradas e virarem pó para cobrir o caminho para os próximos. Preocupados que estamos em não pegarmos a saída errada, nem percebemos. Quanto egoísmo.
Eles nos ensinam a pegar as pedras nas mãos e as transformarem em diamantes que de tão puros somem no ar. Menos pedras, menos obstáculos. O topo se aproxima. Poucos humanos por perto, um aqui outro ali. Muitos desitiram e voltaram. Poucos no topo chegaram ou chegarão. Cansa, desanima, a ilusào da realidade engana. “Para que subir?”, pensam uns, “para que me cansar?”, indagam outros. É o samsara. É a ilusão. A planície no pé da montanha é linda, mas é ilusória. Não existe...
Mas os Mestre povoam a montanha. Compaixão! Paciência! Perseverança! Mais caminhos, mais andarilhos, parecem não mais acabar.
Os caminhos começam com um único passo. Subdividem-se. Dezenas aparecem. Mas no fim, lá perto do topo todos se unem sem excessão numa solitária trilha onde não há mais nenhuma pedra, areia ou impureza, uma trilha vazia, chamada o Caminho do Boddhisatva, onde os Mestres passaram e juraram não mais ao topo voltar até terem carregado o último ser montanha acima.
Budismo na Sociedade e no Trabalho
O ponto é que o Budismo em sua forma litúrgica está impregnado de aspectos culturais dos países pelos quais ele se desenvolveu e floresceu. A grande dificuldade que encontramos é tentar achar um meio de adaptar tais culturas à nossa, o que se torna muito difícil devido aos aspectos socioculturais do povo brasileiro.
Para começarmos a analisar este aspecto, devemos primeiro nos perguntar qual é a verdadeira missão das ordens budistas tradicionais no Brasil. Afinal, queremos formar japoneses, chineses, coreanos, tibetanos ou queremos formar budistas? Esta é uma questão crucial para delinearmos um suposto plano de expansão para estas ordens em solo brasileiro e mesmo em outros países do continente. Temos que nos formular sempre esta questão a cada passo que damos, pois se nossa missão for criar budistas nosso objetivo está próximo e relativamente simples, mas se quisermos forçar aspectos culturais orientais alheios à nossa cultura local, estaremos cometendo graves erros. Erros que podem gerar desconfiança e severas críticas, como veremos mais à frente.
As cerimônias, práticas e costumes estão muito mais relacionados aos aspectos culturais dos países propagadores do Budismo, do que com a religião em si. Não adianta querermos impor aspectos socioculturais aos brasileiros, pois corremos o sério risco de afastar a comunidade cada vez mais dos templos e centros. Então, se retirarmos as influencias confucionistas, taoístas, xintoístas e animistas de dentro da doutrina budista, veremos que nada há de se fazer para adaptá-la ao Brasil, pois, a menos que esteja enganado, os conceitos de compaixão, respeito, honestidade e altruísmo fazem parte do cotidiano brasileiro, praticamente desde sua colonização. Não é dito que o brasileiro é o povo mais solidário do mundo? E que mais o Dharma ensina?
Cerimônias, etiqueta, orações? Tudo isso é importante, mas foram desenvolvidas a partir de cerimônias locais ou foram desenvolvidas pela tradição ou pelos fundadores das ordens, mas não por Buda Sakyamuni, pois na época deste a transmissão era oral e não há registros de cerimônias oficiais nesta época. Se as cerimônias e cânticos existem hoje, estes foram agregados ao Budismo como forma de se recitar os sutras, mas não são sua parte essencial. Por isso, devemos tomar cuidado de como adaptá-las ao Brasil, caso decidamos que isto é importante.
Em caso positivo, a atenção ao aspecto de que o povo brasileiro gosta de entender aquilo que recita ou reza, se faz necessária. É sempre bom lembrar que estamos inseridos numa sociedade católica, na qual a apalavra tem poder, poder de invocação, poder de cura ou poder de amaldiçoar, tendo isso em mente, antes de qualquer coisa, o português deve ser tido com a língua principal nos centros e templos. Antes de qualquer coisa temos que colocar esforços na tradução daquilo que se recita e, lógico, depois temos que traduzir as orações e sutras para serem recitados na língua de Camões. Ora,
As cerimônias em chinês, coreano ou tibetano são muito bonitas, mas vamos nos espelhar em nossos irmãos cristãos que perceberam que missas em latim afastavam os fiéis das igrejas, pois nela nada se entendia. O povo brasileiro tem orgulho de sua língua e isso deve ser respeitado e tido como base para uma suposta adaptação das cerimônias à sociedade brasileira.
Mas por quê é tão difícil? Por quê teimamos em achar que os modos e costumes estrangeiros são melhores que os nossos! O problema é que os discípulos percebem isso e se ressentem. Vale a pena ouvirmos novamente uma frase de Charles Darwin: “Não é a espécie mais forte, nem a mais inteligente que sobrevivem, mas aquelas com capacidade de se adaptar”. Nunca podemos julgar uma cultura na base de melhor ou pior. Lembremos que Buda dizia que nada é bom ou ruim per si, é o conceito da vacuidade, tão discutido e ensinado em todas as escolas e tradições budistas. Pois então, está na hora de praticarmos um pouco mais ativamente este conceito de vacuidade, tendo em vista que os costumes e tradições orientais não são melhores ou piores que os brasileiros, e vice-versa.
Isto é muito importante para desenvolvermos um respeito mútuo entre estas culturas. Reforço estes pontos pois vêem-se movimentos para se criar “sanghas brasileiras” nos templos e centros, o que acho uma atitude louvável, porém não devemos perder de vista que a sangha é uma só e que termos sangha chinesas, sangha coreana, sangha japonesa, sangha brasileira são apenas transitórias e que devemos ter uma única e integrada comunidade para juntos trocarmos experiências e valores, partindo do pressuposto que toda e qualquer cultura por mais distante que seja tem sempre algo de bom para compartilhar.
Isto é muito fácil fazer acontecer, basta lembrarmos que como foi dito no início, o Dharma é universal, não é nem budista por exclusividade e, assim, sendo, ninguém é dono dele e nenhuma língua é a oficial para transmiti-lo. Buda nem mesmo precisou falar nada para transmitir o Dharma para Mahakasyapa! “Sanghas brasileiras” são projetos pioneiros de altíssimo valor, mas tomemos cuidado para não gerar discriminação, nem oposição desnecessárias. Temos que ter todos os grupos em mesmo pé de igualdade nas decisões, votações e discussão de idéias, atribuindo-se o mesmo valor a todos os seres humanos que as compõe, não alijando ninguém, mas promovendo um trabalho integrados para serem uma só.
Isto nos leva a outro aspecto. A formação de monges e professores de Dharma brasileiros são de extrema importância para a propagação do Budismo no Brasil. O Budismo é cheio de escolas, tradições, linhagens e isso pode confundir as pessoas ou mesmo levar a outras com menos escrúpulos a se autodenominarem professores ou mestres sem uma formação adequada, ou mesmo fundar ordens espúrias ou sem embasamento, como ocorre desenfreadamente nos EUA.
Como sabemos, o Budismo é baseado nas experiências pessoais e o exemplo vivo é muito importante para a caminhada nesta trilha espiritual, sendo nesse ponto que a mistura de aspectos culturais sem avaliação criteriosa pode fazer estragos. Dou aqui um exemplo. Em algumas culturas orientais ter prosperidade financeira é sinal de carma bom, sinal de uma vida de méritos e de boas ações que culminaram com as riquezas materiais, depois que se atingiu uma riqueza mental, porém no Brasil a riqueza é sempre vista com desconfiança, de maneira negativa, relacionando tal situação como perpetrador de desigualdade social, sonegação de impostos e, até mesmo, imoralidade. Cada vez que damos um exemplo ou conta-se uma estória oriental envolvendo este tema geramos desconfiança. Me lembro de um monge que deu uma palestra no Brasil e que durante esta, deu cinco exemplos de bom carma usando pessoas que ficaram ricas por causa de suas boas ações. Conclusão: os brasileiros presentes ficaram revoltados e o monge perdeu a credibilidade.
Esse exemplo é muito bom para ilustrar o cuidado que temos que ter em relação as cultura local. Mas o monge estava errado? Não, não estava pois em seu país a riqueza é vista como uma dádiva, como o resultado de boas ações. Mas no Brasil não é, mas com certeza ninguém explicou isso a ele. Também não podemos criticar os brasileiros que se sentiram ultrajados, não podemos criticar nem um nem outro, mas como o próprio Buda fazia e está ilustrado nos sutras para quem quiser comprovar, devemos escolher as palavras e os exemplos para cada tipo de audiência que temos, analisar se os aspectos que vamos comparar são válidos ou se não vai causar mal estar. É certo que ensinar o Dharma numa prisão é bem diferente de fazê-lo para um grupo de estudantes secundários.
A história do país está repleta de pessoas que usaram a fé do povo para enriquecimento ilícito e ainda o fazem e é por isso que exemplos e depoimentos envolvendo dinheiro sempre são recebidos com desconfiança e por isso que as doações ao templos são tão poucas vindas de brasileiros. Sobre este tema já ouvi os maiores absurdos, mas o fato é que temos medo de ser enganados e é por isso que o brasileiro dificilmente doa parte de seus ganhos ou posses para um templo ou centro. Basta conhecer a história e a realidade do país para concluir isso.
Desta forma, voltamos no ponto de que a criação de condições para que brasileiros possam ensinar brasileiros, eliminando assim incidentes diplomáticos culturais e desenvolvendo a confiança naquilo que falamos, é a base para termos um Budismo compreendido em terras brasileiras. Em nosso país falar sem vivenciar, sem o exemplo próprio é o passaporte para o descrédito, pois gera desconfiança e suspeitas de manipulação. Quase sempre se escuta em palestras de monges e mestres estrangeiros que estes ensinam um Dharma inaplicável, impossível de ser vivido, a menos que se encerre num monastério ou numa floresta, este ponto é muito sério pois depende de quem ensina transmitir a mensagem de forma coerente.
Se queremos falar da aplicação do Dharma na família, temos que utilizar aspectos familiares para exemplificar o modo de se fazer isso, como também devemos atrair as famílias para os templos e centros para que estas contribuam com suas experiências no lapidar sadio dos desafios da aplicação dos conceitos budistas na educação de nossos filhos e na condução de nossos trabalhos.
Se analisarmos as pessoas que freqüentam os centros e templos no Brasil, veremos que a maioria dos budistas que conhecemos são sozinhos ou freqüentam reuniões e práticas nos centros de Dharma sem a família ou companhia. A partir daí, começamos a observar este fato e a reviver as cerimônias nos centros de Dharma que freqüentamos e realmente percebemos que poucas são as família completas que vão ao centro, salvo famílias de imigrantes que já são budistas tradicionalmente. Na sua grande maioria, são pessoas que estão sempre sozinhas nas práticas e, se não são solteiras, ou separadas, seus companheiros e companheiras não os acompanham, a não ser que fosse uma visita de um mestre famoso ou importante proferindo palestras, mas mesmo assim vemos muitos grupos de amigos e poucas famílias.
Porém, tende-se a contrapor esta visão quando visitamos templos que tem suporte das comunidades orientais. Lá realmente vemos famílias inteiras nas práticas e cerimônias, mas as famílias vão inteiras por imposição dos pais, pois os jovens, quando vão, o fazem por pura obrigação diante da imposição dos pais. Mas isso não se passava conosco também? Não resistíamos bravamente às missas e cultos?
Então chega-se a conclusão de que o Budismo no Ocidente sofre do que pode se chamar de Crise da Conversão que nada mais é do que a falta da identidade cultural do Budismo com a sociedade ocidental, sendo que quase 100% dos budistas no Brasil e no Ocidente, como um todo, são convertidos, tirando-se obviamente, a porção constituída de famílias que emigraram de países onde o budismo é a religião oficial ou está inserido culturalmente na sociedade. Desta forma o Budismo ainda não teve tempo de adquirir forma dentro da cultura dos países ocidentais com forte tradição cristã enraizada na sociedade. Isto pode ser percebido nas expressões idiomáticas cristãs para referenciar situações budistas como o famoso e popular: “Graças a Deus!”, utilizado largamente por budistas, embora seja uma expressão puramente cristã.
Por outro lado, o Budismo quase sempre é visto no Ocidente como esoterismo e por muitas vezes o vemos dentro do mesmo caldeirão de ciências esotéricas e ocultistas, bastando entrar nas principais livrarias e procurar por livros budistas na seção de Religiões. Dificilmente você irá encontrá-los lá, pois para as livrarias e para muitas editoras, somente o catolicismo e o judaísmo são religiões. O resto é esoterismo! E isso termina sendo permeado na percepção cotidiana, dando a impressão de que o Budismo, uma religião de 2.500 anos, é uma filosofia barata e que Buda serve somente para o colocarmos em cima de um pote de arroz virado de costas para a porta., pois, por mais caricato que possa parecer, é dessa foram que os brasileiros vêem Buda. Porém isto é muito errado e só mostra a condição errada que esta religião é vista nos países ocidentais e vemos isto refletindo na constituição das famílias budistas “convertidas” por aqui.. Mas, é fato que se o Budismo estivesse inserido na sociedade com uma religião estabilizada e não uma “crença” esotérica, haveria menos preconceito e menos reticências.
Dificilmente vemos os centros e templos budistas por este prisma da solidão de seus membros ocidentais, mas a situação está aí para ser constatada. Então chegamos a conclusão que realmente fora das comunidades chinesas, japonesas, tailandesas e afins, nossa religião ainda é uma semente. Temos que tentar trazer a família ocidental para os centros através de atividades que interessem a seus membros, tanto individualmente quanto em grupo. Se as igrejas cristãs e judaicas podem fazer isto, nós, budistas, também podemos e este seminário é uma das iniciativas que temos para tentar ampliar a visão dos Ensinamento e Preceitos de Buda dentro da família brasileira, utilizando as experiências dos convertidos e suas opiniões.
É nosso desafio criarmos condições para que as famílias freqüentem os templos e que os jovens se interessem, mas talvez nunca tenhamos perguntado a estes jovens o que eles querem ou como eles querem ouvir o Dharma, talvez nossa arrogância não permita que sejamos jovens e adaptemos nosso discurso às suas realidades. Jovens gostam de ser úteis, eles são movidos por ideais, então temos que aproveitar estes potenciais, não adiantando obrigá-los a nada, nem impormos qualquer ética para eles. Todos já fomos jovens: o que queríamos? Com que nos preocupávamos? Perguntemos isso aos nosso jovens de hoje. É tão fácil!
As outras religiões podem nos dar ótimos exemplos de como fazer. “Vamos a lutas!”, como diria a Rev. Sinceridade, mas vamos sem arrogância ou pretensões de que temos algo para ensinar, pois temos sim, algo para aprender e isso deve começar em nossa família, no nosso lar.
O grande começo para uma educação budista para nossos filhos é desenvolver a compaixão em todos os momentos de nossa vida cotidiana. Em casa, com parentes, amiguinhos, pedintes na rua, com as pessoas que nos relacionamos temos que estar atentos em provocar isto em nossas crianças e com isto praticamos e desenvolvemos a nossa própria compaixão.
O exemplo para nossos filhos deve ser sempre preservado e utilizado como ponto de partida para passarmos conceitos e idéias para eles de forma simples e contundente. Veja, é mais fácil mostrarmos a eles o que fazer do que nos preocuparmos com explicações lógicas, bem como, não podemos cobrar deles atitudes que devam nascer do que explicamos, pois é muito mais simples que as crianças copiem as atitudes de seus pais e familiares. Se eles fazem isto com seus amiguinhos porque não podem fazer conosco?
Despertar e incentivar o lado bom e compassivo de nossas crianças é um grande passo para explicarmos os princípios básicos do Budismo para elas. Se conseguirmos mostrar e passar à elas os conceitos de fazer o bem e preservar os seres vivos, já conseguiremos transmitir grande parte do ensinamento budista. A compaixão deve ser tomada como um sentimento que leva a uma atitude constante de promover o bem e fazer boas ações de modo a que isto fique inerente a qualquer situação que nos encontramos durante a vida.
Um bom exemplo é a relação da criança com os animais, geralmente elas vêem um animal grande como vacas, cachorros, gatos e pássaros como seres vivos, mas animais pequenos ou que eventualmente lhe fazem mal são sempre descartados como seres e passam a ter seus dias contados na mão de nossos pequenos. Muito disto se deve também as nossas atitudes, pois estamos sempre exterminando mosquitos, moscas, baratas e insetos diversos. Sem pensar, estamos com chinelos e panos nas mãos para eliminar pequenos animais de nossos lares. Mas dificilmente lembramos que estes animais por menores que sejam são também seres vivos. Afinal, que diferença há entre a vida de um elefante ou de uma minhoca? Por que matamos um mosquito com tanta facilidade? Por que nos faz mal? Por que nos pica?
Há uma estória budista que conta que um monge vê um escorpião se afogando em uma poça d’água e salva o pequeno animal com sua mãos nuas e toma uma ferroada do bicho, mas quando o monge o coloca no seco ele volta para a água e pacientemente o monge o recolhe novamente e toma uma nova picada e o escorpião volta para a água de novo, num ciclo incansável. Um outro monge vê a cena e se aproxima imaginando a dor que seu colega está sentindo pois a picada de um escorpião provoca uma das dores mais lancinantes no ser humano, e pergunta o porquê daquele gesto, ao que o monge com a mão inchada responde: “a índole deste animal é se defender com sua cauda venenosa, a minha é querer seu bem sempre, não importando como”.
Esta estória ilustra bem o sentimento budista em relação aos seres sencientes e temos que cultivar em nossas crianças este respeito pelos animais e pelos outros seres humanos. Não quero dizer que elas devem brincar com escorpiões ou qualquer outro animal peçonhento ou que lhes façam mal, de maneira alguma, mas quero dizer que se mostrarmos a elas que este respeito vai ser bom para os animais e para si próprios já teremos plantado uma sementinha dentro da consciência de cada uma delas.
Em vez de matarmos mosquitos podemos instalar repelentes em nossas casas. Em vez de esmagarmos baratas, podemos pegá-las com um copinho e colocá-las para fora de casa. Se estamos no mato e vemos uma cobra podemos nos afastar., afinal ela só ataca quando encurralada.
Em suma, podemos encontrar meios alternativos para evitarmos ao máximo matar intencionalmente os animais que nos cercam. Digo intencionalmente porque somente o fato de andarmos e sentarmos já comprometemos a vida de animais pequenos e microscópicos. Pois então, a palavra de ordem é intenção.
No Budismo, dizemos que a ação tem quatros momentos distintos, a intenção da ação, a preparação da ação, a ação em si e o regozijo da ação executada e que para a ação ser completa devemos seguir estes passos efetivamente. O termo carma significa justamente ação e geramos nosso carma em função das ações que tomamos em nossas vidas. Assim, quando as quatro etapas de uma ação são completadas há uma geração de carma em nossas vidas, porém a “potência” deste carma adquirido pode variar se umas destas etapas é interrompida. Um exemplo é um indivíduo que comete uma ato negativo e arrepende-se logo em seguida sem se regozijar, carma ruim será acumulado, mas em menos quantidade. Um Lama tibetano uma vez contou sobre as proporções de acúmulo de carma em relação as etapas não completadas das ações cometidas, mas acho que não é relevante aqui, pois o fato é que temos que analisar nossas ações antes que aconteçam e já na primeira etapa: a intenção. Também não quero dizer que podemos fazer qualquer coisa e depois nos arrependermos que nosso “contador” de carma vai ficar passivo, mesmo porque, não podemos anular os efeitos e as causas de nossas ações por maior que seja nosso arrependimento.
Se desenvolvermos uma intenção pura para nossas ações é um grande passo para efetuarmos ações meritórias em nossas vidas e darmos este exemplo para nossas crianças será mais fácil evitarmos ações negativas do que corrigirmos ações impensadas.
A compaixão também está relacionada a benevolência, ao desapego e a prática da bondade com seres humanos. O fato de sempre encontrarmos pessoas que necessitam de nossa ajuda é uma fonte de prática para nossa compaixão sem limites. Vale lembrar da frase do mestre Hsin Yun, “o mérito é duplo quando praticamos o bem, para quem faz e para quem recebe”, assim, quando praticamos o bem estamos gerando mérito para o objeto de nossa benevolência além de nós mesmos.
Implicarmos isto na nossa vida diária é parte dos ensinamentos budistas e fortemente referenciado nos Votos de Bodhisattva das escolas Mahayana, de Budismo. A essência destes Votos é justamente praticar o bem e a compaixão para com os outros em primeiro lugar, mesmo em relação a você próprio, ou seja, policiar nossa mente em função da prática de ajudar os que precisam no nosso convívio diário.
Se prestarmos atenção estamos rodeados de pessoas que possam ser alvo de nossa compaixão, dentro de casa, em nosso trabalho, no nosso clube, no círculo social que estamos inseridos. Porém, devemos sempre ter em mente que a compaixão não pode ter como objetivo a nossa própria promoção, nosso jubilo, nem ser o combustível de nosso próprio orgulho. A compaixão deve ser espontânea e visar o bem-estar alheio, porém sei bem que desenvolver uma pura compaixão, livre de interesse pode ser algo difícil na sociedade que vivemos hoje, mas se em nossa célula social, nossa família, possamos plantar uma semente, uma árvore florescerá e espalhará suas sementes pela região e assim novas árvores florescerão. Os frutos desta árvore, nossos pupilos, serão os grandes e beneficiados por estes preceitos, desde que reguemos nossa semente com água pura, pois como me disse uma vez a mestra Sinceridade, “o Budismo é como uma semente, depois que vira uma árvore, toda sua essência está nela e poucos lembram de que ela já foi uma semente”, isto quer dizer que quando plantamos os preceitos budistas em nossa família, temos que fazê-lo de forma a germinar com força para que naturalmente suas raízes se emaranhem na educação de nossos descendentes, pelos motivos que já apresentei anteriormente e conseguirmos construir mais famílias budistas de forma natural, já que a maioria destas no ocidente seja composta de budistas convertidos de outras religiões.
Talvez estejamos gastando muito templo divulgando uma cultura estranha ao invés de nos ater às bases que compõe uma comunidade, pois o que culturalmente pode ter dado certo num determinado país, não quer dizer que este sucesso se repetirá aqui ou em qualquer outro país. Simplesmente, não há esta garantia. Outras religiões acharam esta fórmula, cabe a nós construirmos nossas equações.
Temos que dar fórmulas para a comunidade utilizar no seu dia-a-dia. A pergunta que mais se ouve num seminário budista é “como levo estes conceitos para a minha vida diária?” Se esta pergunta permanece, então, é porque não estamos sendo competentes em mandar nosso recado. Como meditar trabalhando? Como um mantra me ajuda a criar meus filhos? Como o Nembutsu me ajuda a ser uma pessoa melhor? Como ser compassivo se trabalho numa empresa que me cobra resultados? Estas são perguntas comuns que vemos nas listas budistas nas Internet,. Nos seminários, em retiros. E uma outra pergunta fica no ar: estamos preparados para responder a isso usando aspectos da cultura e da sociedade brasileira? Ou o que nos resta são exemplos que muitas vezes não se encaixam nos conceitos locais?
Nestes casos, não adiantam os sutras, abhidharma ou cerimonias, nem adianta trazer aspectos das sociedades orientais para a discussão, isto é o aqui e o agora e é justamente nestes casos que monges e professores brasileiros agregam um enorme valor trazendo para a luz das argumentações suas vivências diárias e desenvolvendo analogias produtivas e encorajadoras para as pessoas.
É dito que o mundo dos negócios talvez seja o mais desafiador de todos para aplicarmos os ensinamentos de Buda. É um mundo selvagem, um jogo, no qual o indivíduo não tem valor, apenas resultados, porém, ainda que inseridos neste ambiente podemos ser honestos, íntegros e humildes, mas temos que levar em conta que estes três itens são mais importante que fama e fortuna, transformando esta situação no grande desafio de nossas carreiras profissionais. Desafio maior para aqueles que ensinam o Budismo, onde honestidade, integridade e humildade devem ser tidos como base para que a própria religião não caia em descrédito.
Como disse o monge Meiho Guensho: “Empresários que pensam apenas em seu enriquecimento pessoal não são verdadeiros empresários. Os legítimos são os que se encantam com a construção de uma grande obra. Os que pensam em acumular para si são predadores, sem visão da totalidade. Falta-lhes espiritualidade. Visão abrangente. Empregados que estão sempre cogitando de como superar o colega, de como obter vantagens espúrias dentro da empresa, são salteadores, não são trabalhadores. Assim, começa a surgir a necessidade de treinar as mentes para que elas ampliem sua percepção do mundo. Para que os egos se expandam e consigam perceber o todo que nos cerca. Dentro da empresa significa compreender o objetivo último da empresa e sua inserção no mundo empresarial. Uma maior compreensão das práticas espirituais implica em entender o outro, ajuda-lo, ter espírito de equipe. Abdicar do egoísmo que atrapalha o desempenho e geram conflitos dentro das equipes. Para diretores e gerentes significa a satisfação de olhar o mundo com olhos de realizador mais profundo do que meramente a do acumulador de posses. Estas são em última instância impermanentes e perecíveis.”
Para iniciarmos nossas conclusões, ressalta-se a necessidade de planejamento com métricas definidas de curto, médio e longo prazo das ações a serem tomadas para que possamos integrar cada vez mais e mais o Budismo na vida das pessoas. Talvez uma atividade importante seria promover uma maior integração dos diversos centros e templos no Brasil, ainda que divididos por cidade ou região para que não haja duplicidade de ações e possamos fortalecer tanto ações sociais, mas também ações relevantes à sangha de praticantes e aos templos em geral. Um outro ponto importante é a incessante necessidade de traduções acuradas de textos budistas e sua divulgação incessante, bem como a unificação de termos e eventualmente de terminologias, que garantam um perfeito entendimento, não importando a escola ou tradição. Enfim, para termos um Budismo brasileiro basta que sigamos os ensinamentos de Buda e nada mais precisa ser feito, mas se quisermos algumas outras coisinhas a mais adaptadas, devemos esperar um pouquinho mais, mas o importante é que possamos exercitar nossa mente búdica independente de prostrações ou cerimônias religiosas, pois como diz o poema de Asahara Saichi:
Ó Saichi, onde fica a tua Terra da Plenitude?
Minha Terra da Plenitude fica aqui mesmo.
E onde fica a fronteira
Entre este mundo e a Terra da Plenitude?
Os olhos são a fronteira.
(palestra proferida na inauguração do Templo Zu Lai, em Cotia, SP)
Vivendo o Nembutsu – Os Seis Paramitas e a Vida Moderna
Em minha saga para estabelecer sobre o que iria falar com vocês lembrei-me que poderia transmitir aqui um pouco de minha experiência nestes quase 25 anos de estudos e buscas, porém também lembrei-me que Buda Shakyamuni nos transmitiu muitos ensinamentos, 84.000 dizem alguns, e um muito importante e que tem me norteado por muito tempo são os Seis Paramitas ou as Seis Perfeições, ensinamento referenciado sempre por vários mestres budistas, incluindo nosso fundador, Shinran Shonin e é tema de uma das comemorações mais importantes de nosso calendário, O-Higan. Então vamos tentar conectar tudo isso, começando pelo começo.
Deixem-me contar um pouco de minha saga pessoal na tentativa de atravessar para a outra margem, nesses praticamente 27 anos de estudos e dúvidas, muitas dúvidas, sobre o Budismo. Nasci numa família católica pouco praticante, há 35 anos, mas desde cedo sempre me intriguei com assuntos metafísicos e também senti uma grande atração por assuntos orientais tanto a cultura como religião. Tendo crescido num ambiente católico, com 13 anos fui fazer um retiro cristão e comecei a freqüentar uma comunidade de jovens e a estudar religião em reuniões semanais. Nesta época as dúvidas floresceram de maneira contundente e comecei a analisar os aspectos do Catolicismo por uma via mais concreta e menos dogmática. Neste mesmo período comprei um livro quase que por acaso numa livraria já fechada em São Paulo. Tal livro chama-se “Introdução ao Zen Budismo” do Dr. Suzuki que depois vim a descobrir que foi o primeiro livro de muitos budistas brasileiros e americanos. Não se bem quanto aos outros, mas eu não entendi nada do livro naquela época e mesmo hoje ainda não compreendo muito, podem ter certeza.
Mas uma das poucas partes que entendi explicava sobre a condição humana presa num ciclo incessante de renascimentos, direcionado pelos resultados das ações de cada pessoa e como esses resultados poderiam afetar a vida do indivíduo e de todo os sistema social e natural que o cerca. Este foi meu ponto de partida na tentativa de encontrar respostas para minhas fortes indagações metafísicas e espirituais. Nesta fase da minha vida e mesmo na atual, a história de vida de Buda Shakyamuni sempre foi uma referência para mim, pois ele foi um jovem, um adolescente, assoberbado de dúvidas e durante toda sua juventude e parte de sua via adulta procurou respostas em todos os cantos. Creio que esta parte inicial da vida de Buda não foi muito diferente da minha ou da de vocês... a não ser pelos 3 palácios magníficos que ele tinha!!!
A partir deste livro comecei a estudar mais e mais e comecei a praticar também num templo tibetano da escola Nyingma em São Paulo, depois indo para um templo Ch´an, no qual comecei a ensinar o Dharma para pessoas iniciantes que nos buscavam. Foi nesta época que entrei em contato com a doutrina da Terra Pura primeiro chinesa e depois japonesa, o que me convenceu ser uma doutrina aplicável a qualquer estilo de vida e a qualquer idade, não havendo limitadores de lugar, tempo ou condição social para que se possa praticar, afinal de contas para recitar o Nembutsu somente precisamos conhecer as sílabas, pois mesmo um mudo ou um cego podem assim fazê-lo. Diante de um conhecimento um pouco maior desta doutrina, me convenci que era uma doutrina definitiva, coerente e altamente fácil de ser transmitida, embora, para as mentes ocidentais, algumas vezes difícil de ser compreendida por causa da mente cristã que permeia a sociedade ocidental.
Neste meio tempo, me casei com uma pessoa que conheci naquela comunidade cristã e tenho hoje duas filhas. Todas, incluindo minha esposa, budistas. Creio que somos uma das primeiras famílias budistas brasileiras de pais convertidos, com filhos que nasceram budistas e isso nos dá uma responsabilidade dobrada pois temos a obrigação de passarmos para nossas filhas as bases da religião de nossa família, desde os conceitos, as práticas e principalmente a ética.
Neste período como budista, pude verificar que muitas perguntas são recorrentes indagadas por brasileiros e até mesmo por integrantes das comunidades orientais. Acho que a campeã é a famosa “como posso ser budista e aplicar os conceitos desta religião na minha vida diária?” e outra muito importante é “como podemos transmitir o Dharma para um jovem ou uma criança?”. São perguntas que necessitam de dois lados para serem respondidos: um deles é o que os professores, monges e Comunidade podem proporcionar e outra é o que as pessoas estão dispostas ou vêem valiosos para suas vidas. É sempre bom lembrar que o Budismo nunca teve um caráter proselitista no mundo, ou seja, nunca foi atrás de adeptos, nem fica no farol pregando, competindo com malabaristas mirins.
Acho também que a primeira parte precisa ser comunicada sobre como a segunda quer ser abordada e que tipo e como querem receber mensagens sobre o Budismo. Poderia dizer também “Se quiserem receber”, mas acho que várias dezenas de jovens dos quais vários viajaram mais de 500 quilômetros para estar aqui, devem estar alguma coisa interessados no Congresso e sobre o que temos a dizer, do que simplesmente a integração e descontração que o evento pode proporcionar. Assim, convoco a todos para um diálogo franco com as lideranças de nossas comunidades para que possamos alinhar as expectativas de vocês com as capacidades atuais e futuras do Hongwanji no Brasil.
No que tange a segunda parte, ou seja, vocês, jovens do Hongwanji gostaria de lembrá-los de uma boa parábola japonesa: “A Rã que vive no poço”.
Havia uma rã que vivia num poço, próximo ao oceano que ali havia nascido e dali nunca tinha saído pois não conseguia saltar tão alto. Mesmo porque ela desconhecia o mundo ao redor do poço pois, como nunca o havia visto, para ela não havia nada além das paredes de pedra de seu poço. Desta forma, ela ignorava o imenso oceano ao seu redor e que dele somente ouvia o seu som, ignorando por completo o que realmente era. Ela não só ignorava o oceano, ou seja, a condição do mundo onde vivia, mas também ignorava sua própria condição de “rã presa no poço” e para descobrir que vivia num poço e que havia um oceano a poucos metros ela teria que sair dali.
Mas um dia uma garça começou a sobrevoar o poço e viu a pequenina rã ali a coaxar (rã coaxa?) . Pousou na borda do poço e perguntou a rã porque ela vivia num poço, tendo um oceano tão grande a seu dispor do lado de fora. Surpresa com a pergunta do pássaro, ela reagiu confusa dizendo que o pássaro de nada sabia e que o poço era seu mundo seguro e confortável e que nada poderia existir além dele.
Diante da reação da rã, a garça voa para longe, deixando-a. Depois de algum tempo, a rã reflete sobre o que a garça disse e começa a questionar se realmente não haveria um mundo além das paredes de pedra do poço e que talvez esteja equivocado e que a história daquele pássaro poderia ter algum fundamento. Na outra vez que o pássaro por lá sobrevoou, a rã o chamou e desculpando-se pela atitude na vez anterior pediu que a garça a levasse para um passeio em suas costas. A garça, muito prestativa, concorda com o pedido, colocando a pequena rã em suas costas e alçou vôo. A certa altura a rãzinha olha para baixo e vê seu pequeno poço, essa compreende quem era, onde morava e que havia um oceano imenso e desconhecido ao lado de sua casa que nunca havia visto. Ou seja, a pequena rã experimentou duas realizações simultâneas, quem era e onde estava inserida, dissipando suas dúvidas existenciais. Ela vê como era pequeno seu poço e como era imenso o oceano, alguns autores dizem que esta parábola demonstra a condição humana antes de ter contato com o Budismo.
As pessoas se vêem como entes isolados do mundo achando que suas atitudes se encerram em si próprios e desconhecem suas condições, seus poços onde vivem e também desconhecem o oceano ali ao lado, ou seja a grande sabedoria búdica que está ao nosso dispor.
Me espelho muito nesta rã e creio que muitos de vocês também, pois antes de termos um mínimo contato com o Dharma, estamos na mesma condição do poço e basta que uma pequena fagulha nos atinja para que uma interminável lista de dúvidas se forme sobre nosso poço e sobre a possibilidade de haver um oceano nos rodeando.
Mas onde podemos encontrar uma garça para com a qual possamos alçar vôo? Eu vejo que temos muitas garças ao nosso redor, embora tenhamos o péssimo hábito de enxotar esses pássaros de nossas vidas. As primeiras garças que vejo em nossas vidas são nossos pais. Vocês já perceberam a quantidade de conselhos que eles nos dão e nós ignoramos e muito tempo depois descobrimos que eles tinham razão? Tá bom, tá bom, alguns não, mas a maioria sim. Pelo menos tenho certeza que aqueles relacionados com o Dharma são certos e diretos. Mas nós enxotamos eles, não? “Sai do meu quarto que você não sabe nada!”; “Os tempos mudaram”; ou ainda, creio que a mais freqüente desde o meu tempo: “Não enche o saco, pô!”.
Mas por mais velhos e antiquados que nossos pais possam ser o Budismo, o Nembutsu, a Terra Pura são atemporais, podemos falar deles por anos e anos e sempre serão atuais. O que talvez tenhamos que moldar é a maneira como fazemos isso. Os exemplos a serem usados, a forma de se falar deve se moldar mas sofrimento será sofrimento e karma será karma até o fim dos tempos.
E continuando a falar em garça, digo que as outras que temos são os “bons companheiros”, ou seja, os monges e professores de Dharma que cruzam nossas vidas e a quem também pouco ouvimos, só não os mandamos não encher o saco, mas até acho que alguns pensam assim. Mas são das bocas dessas pessoas que o Dharma flui e que podemos, muitas vezes entrar em contato com mecanismos para compreender nossa verdadeira condição humana e do nosso mundo ao redor. Cometemos o erro de achar que os monges nos darão respostas prontas e imediatas para nossas inquietações. E nos comportando como rãs que enxotam as garças, ignoramos suas palavras e seus conselhos.
Então para podemos alinhar nossas expectativas com as capacidades de aprendizado que nos são oferecidas temos que aceitar nossas condições ranárias e iniciarmos nossa saída do poço e isso significa, no mínimo, um pouco de confiança mútua. Costumo pautar, ou pelo menos tento, minhas ações por alguns itens simples ensinados por Buda e realçados por vários mestres budistas. Esse é um ponto para começarmos a falar sobre Budismo em nossas vidas e como encaixa-lo seria analisarmos as Seis Perfeições que nos foram ensinadas por Buda como uma maneira de se viver o Budismo em nossas vidas. São elas a generosidade (Dana), a ética (Shila), a paciência, que eu preciso aprender a ter (Kshanti), o esforço (Virya), a concentração (Dhyana) e a sabedoria (Prajna). Esses paramitas ou Perfeições ou higan, em japonês são os meios pelos quais o Buda nos guia da margem mundana do mundo para a outra margem da Terra Pura. Este conceito de transposição de margens deu origem ao O-Higan cerimônia na qual expressamos nossa gratidão por termos sido despertados pela Sabedoria e Compaixão Infinita de Buda Amida, tal como a rã foi desperta pela garça.
Das Seis Perfeições acho que o mundo e principalmente nosso país recentemente carece de “Shila”, ética, para que nossas ações sejam carregadas de alinhamento moral e possam ser direcionadas segundos princípios de Prajna, ou seja, sabedoria, a Sabedoria Infinita de Buda. Agindo com ética já é um grande passo para vivermos o Budismo em nossas vidas pois a ética garante que nossa ações sejam retas. Se a cada vez que temos que tomar uma ação seja em relação aos amigos, família, escola... que seja embasado nas ética que Buda nos apresenta e é resumida pelos outros paramitas, paciência, concentração, esforço, generosidade e sabedoria.
A paciência nos ajuda a pensar mais antes de agir, a avaliar a situação usando a sabedoria, para entendermos a situação presente e futura e as conseqüências dos resultados daquilo que pensamos e executamos.
Em termos de sabedoria, esta se mostra indispensável para vivermos de forma ética e serena; é a partir da Sabedoria Infinita de Amida que recebemos a Luz do Outro Poder que nos impele para a outra margem, então é através dela que pautamos as análises da vida e a compreensão da nossa condição humana. A aquisição da sabedoria está mais associada a ouvir o Dharma e verificar a transformação que esta atitude nos traz do que a sabedoria gramática, aquela contida em livros. A Sabedoria Infinita de Buda Amida é vivência, não teoria; é realização e não pesquisa; é despertar e não dormir; e é desta forma que vamos atravessando o oceano de nossas vidas. Se aceitarmo-nos como somos e como estamos inseridos no mundo, entendendo que a cada atitude nossa afetamos o mundo, estaremos utilizando nossa sabedoria.
A generosidade é um exercício de altruísmo, mas não necessariamente uma doação material, mas uma doação moral e ética. Um posicionamento livre de troca e julgamento. Confundimos muito generosidade com esmolas e não há coisa mais antagônica. Generosidade está relacionado com compaixão, com eliminação do ego individual e permeia nosso modo de vida. Ser generoso é ser amigo na última concepção da palavra, é ser filho, irmão, sem pedir algo em troca. Eu sei, agora muitos estão pensando: “Ah! É muito fácil falar!”. Mas se não começarmos em algum lugar com algum esforço (Virya) que é um outro paramita, jamais poderemos viver no Nembutsu, porque nosso esforço próprio, nosso Próprio Poder, deverá ser suplantado pelo Outro Poder, o Poder de Amida. O esforço é um esforço puro, sem julgamento e expectativa de troca. É o vôo da rã, é a vontade sair do poço e tirar as dúvidas, pois essas dúvidas que nos surgem são dissipadas quando nos sentimos compelidos a voar nas costas das garças. Esse esforço de voar, essa vontade é a manifestação do Outro Poder.
A concentração nos dá a virtude de focar para compreender, focar para transformar. Quando ouvimos o Dharma e nos concentramos nas palavras daqueles que nos falam e permitimos que tais palavras destruam preconceitos e conceitos errôneos, tal concentração está contribuindo para nossa sabedoria e ao desenvolvimento de nossa ética também. A concentração é desenvolvida de formas diferentes em várias escolas budistas. No Jodo Shinshu, nossa concentração é focada na contemplação do Dharma, dos Sutras, Gathas e as cartas de nossos mestres, pois é através deles que poderemos experenciar a transformação necessária para atingirmos a outra margem, embalados pelo barco da Compaixão Infinita de Amida.
Depois desse pequeno passeio pelos paramitas, voltamos ao primeiro que descrevi que é justamente a ética. Uma juventude ética vai gerar um futuro brilhante para nossa sociedade. Pode parecer piegas, mas olhem para situação político-social de nosso país. Ela foi gerada por condições que uma juventude gerou um dia, no passado. Isso que vemos é uma conseqüência natural de ações errôneas do passado e como sabemos não podemos mudar as conseqüências, os efeitos, temos que alterar as causas e condições. Se somos impelidos a agir com essas Perfeições, mesmo que num contexto diminuto, já estamos contribuindo para uma situação melhor para nossa sociedade e país. Não nos basta cobrar, a execução é ponto crucial para a transformação. E executar é agir e para agir temos que o fazer com no mínimo sabedoria e ética para que o efeito seja benéfico e duradouro.
Para mim recitar o Nembutsu é um agradecimento por ser um rã (e das grandes no meu caso!) e uma certeza que estou voando e que consegui ver o Oceano. Acho que tive várias garças em minha vida e tendo a ver todas as pessoas e situações que me cercam como garças, nas quais pegarei carona várias vezes. É certo que o cantinho do poço é mais gostoso e confortável, mas afinal andamos centenas de quilômetros para estar aqui e isso também já é um baita esforço, que com certeza nos foi impelido por uma Sabedoria além de nossas vontades egóicas. Sendo assim só me resta juntar as mãos e recitar... Namo Amida Butsu! Namo Amida Butsu! Namo Amida Butsu!
(por Mauricio Ghigonetto – Shaku Hondaku – 39o. Congresso Sul-Americano de Jovens Budistas – Araçatuba, SP)