Apesar deste texto estar com o tema atrasado, achei que seria interessante abordá-lo, uma vez que fui questionado por um adolescente sobre o assunto.
Há duas semanas, acompanhei o pessoal da (antiga) 8a. série (atual 9o. ano) da escola das minhas filhas, um uma visita ao Betsuin (sede do Honpa Hongwanji em São Paulo). Já é o segundo ano que essa visita acontece, pois essa moçada pesquisa sobre ritos de passagem nas sociedades e nas religiões, pois eles estão vivendo um momento de transformação, sendo que vão para o colegial e depois, em três anos, para uma faculdade.
Em minha paletra para cerca de 10 alunos, comecei dando meu testemunho sobre a pressão que sofremos da família, sociedade e amigos para encontrarmos uma profissão, um caminho a seguir. Falei sobre a total incoerência desta atitude com os princípios budistas, que afirmam que temos que viver no presente para poder constuir um bom futuro. Disse a eles que logo entrei em engenharia após o 3o colegial, mas olhando para trás vejo hoje em dia que teria feito outra coisa, como gastronomia, por exemplo.
Então o grupo cheio de curiosidades, levou o assunto para karma e Iluminação. Então, comecei a falar sobre o não-julgar, como a maneira de se não gerar pegadas por onde passamos, não gerarmos consequências de nossas ações. Recebi a seguinte pergunta: "Mas se não devemos julgar, como votamos? Como escolhemos um prefeito?". Foi aí que me dei conta que muitas vezes as pessoas votam por empatia e não na competência do candidato e que estes candidatos passam por um "julgamento" público e não necessariamente por uma escrutinação. Mas achei a pergunta ótima.
Passei a explicar que não devemos votar por aversão ao outro canditado ou por simples simpatia, temos que analisar as propostas de cada um e ver o quanto elas se alinham com as necessidades de nossa cidade. Votar em um ou outro candidato com consciência não é, necessariamente, um julgamento e sim uma escolha concreta e racional, pois votar em fulano porque é meu vizinho, ou frequenta a mesma igreja ou deixar de votar pelos mesmos motivos são casos vívidos de julgamento, de apego e aversão.
Em São Paulo, uma das candidatas era budista, não votei nela. Seu programa, a meu ver, não se encaixava em uma cidade como São Paulo. Poderia ter votado sem pestanejar simplesmente por termos a mesma convicção religiosa, mas só isso é necessário para governar um "país" como São Paulo? Eu achei que não.
Logo, não podemos confundir escolhas estruturadas com paixões mundanas. Como também não podemos achar que vamos parar de julgar tudo e todos da noite para o dia, porque se fosse fácil, ninguém ía precisar de prática nenhuma para se atingir a Iluminação.
Namo Amida Butsu!!!!
Por isso esse blog possui esse nome... Jigoku No Sora,
o Teto do Inferno
"Esse eu insensato, que tem tão pouca chance de salvação, é totalmente incapaz de resistir a desejos intensos e comprometimentos, a essa sucessão de dias e noites, inegavelmente reais, passada sob o constante tormento das ilusões monstruosas; isso é o inferno." - Hiroyuki Itsuki
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