Com muito atrasado venho postar sobre os dias que passei no Templo Apucarana Nambei Honganji a convite do meu sensei, Rev. Wagner Haku-shi e sua esposa Rev. Sayuri, recebendo ensinamentos, conversando sobre planos futuros, ordenação e ajudando nos preparativos para o Hanamatsuri, a Festa das Flores, que comemora o nascimento do Buddha Shakyamuni.
Minha ida se deu no feriado do dia do trabalho, cheguei no sábado de madrugada em Londrina, onde os revendos me esperavam. Bom, neste instante a conversa começou só acabou 4 dias depois!
Durante esses dias, além de conhecer uma cidade muito interessante, pude viver um pouco o dia-a-dia de um templo shinshu, interagindo com a comunidade nos preparativos da festa e vendo como é a ação dos monges que vivem diretamente nos templos.
Podemos achar que é uma vida tranquila e claro que comparado com nossa vida atribulada de metrópole é muito mais easy, mas isso não quer dizer que não tenha o que se fazer. Tem! E muito! Sayuri-san mal parou nesses dias para garantir que tudo estivesse estruturado e em seu lugar para a festa mais importante do Budismo japonês. O entra-e-sai no templo é constante e as "velhinhas" do Fujinkai (Associação de Senhoras) não pararam de cozinhar para fazer que tudo estivesse nos conformes para a festa na terça-feira. No domingo, tudo já estava fervilhando por lá. Sorte minha e do Jean Jacques! Pois comida caseira japonesa feito por senhorinhas que sabem o que estão fazendo é maravilhosa!
Muita conversa fluia a cada minuto que sentávamos para fazer qualquer coisa, dúvidas, planos, liturgia, recitações, histórias engraçadas, notícias da comunidade, fofocas do Dharma, muito chá verde, cerveja, comida e conversa novamente.
Jean Jacques, um bom amigo que trilha o caminho monástico comigo, chegou na segunda-feira adicionando mais conersa, mais duvidas, mais notícias. Já estávamos integrados, nos sentindo em casa e com pena de irmos embora.
A comunidade toda nos recebeu de braços abertos, até meio supresa por ver dois gaijins, um se deslocando de São Paulo e outro de... Paris para comemorar o Hanamatsuri ali em Apucarana. Motivo do discurso do presidente das associações budistas, ressaltando nossa presença e a importância que o "o-tera" (templo) de Apucarana estava ganhando. Afinal, dos provaveis próximos 5 monges da Missão, 3 sairiam dali! Mesmo porque outro monge, de Curitiba, já tinha passado alguns dias antes de nós por lá para receber ensinamentos do Rev. Haku-shin e para a festa chegou Rev. Benjamin de Presidente Prudente, o qual iria fazer a prédica principal das comemorações. Quase sem querer, o otera de Apucarana virou uma "escola budista" (Bukkyo Gakkuin) por quase uma semana naquele período ou melhor uma "Escola do Budismo Terra Pura" (Shinshu Gakkuin)!
Uma semente importante para o Budismo no Brasil foi plantada ali. Não estávamos ali para somente para planejar, para conjecturar. Ali estávamos para decidir e fazer as coisas acontecerem. Decidir como seria o futuro, como daríamos continuidade aos trabalhos missionários no Brasil e qual seria o papel de cada um nesse contexto.
Foi uma experiência incrível e garanto que tanto eu como Jean Jacques nos sentimos parte integrante desta sangha e lá sempre estaremos quando necessitarem ou quando nos forem solicitados.
O Hanamatsuri foi maravilhoso! Templo cheio! Dia de festa! Rev. Haku-shin e Rev. Benjamin recitando o Sutra Longo de Amida enquanto toda a assembléia dava banho de chá adocicado na estátua do Buda menino apontando para o céu e para a terra. Shoshinge recitado, wasan e eko. Fotos a vontade e confraternização. Toda a comunidade veio nos cumprimentar e parabenizar pelo nosso futuro na Missão.
Nessa hora percebemos um jovem rapaz, 12 ou 13 anos, loiro de olhos azuis no meio dos japoneses, portando um nenju (que depois soubemos que ele mesmo o havia feito). Causava estranheza. Sabia as recitações e tentava copiar a minha postura e a do Jean Jacques. Indagamos quem era e descobrimos uma história intrigante. Rev. Haku-shin costuma colocar gasolina em um único posto em Apucarana e um dia um dos frentistas veio conversar com ele sobre o filho. Disse que o rapaz era aficcionado por cultura japonesa, só se interessava sobre isso e queria saber se o filho poderia visitar o templo. E então passou a ir lá, incentivado pelo pai (que nem fazia idéia do que era Budismo) nas datas comemorativas, lembrando que mora em outra cidade que não Apucarana. O rapaz agora aprende japonês e está decidido em realmente seguir o caminho do Budismo. Lembrei muito de mim quando imagens dos meus 3 ou 4 anos vendo filmes de samurais na televisão me vem à mente e da sensação de extase que me provocavam, como se eu tivesse vivido ali fazia pouco. Ouvindo essas histórias cada vez mais vejo que renascimento é algo indubitável.
Se tudo der certo em julho estaremos lá novamente para os Ritos de Obon, a homenagem aos mortos no Budismo japones.
Namo Amida Butsu!
Por isso esse blog possui esse nome... Jigoku No Sora,
o Teto do Inferno
"Esse eu insensato, que tem tão pouca chance de salvação, é totalmente incapaz de resistir a desejos intensos e comprometimentos, a essa sucessão de dias e noites, inegavelmente reais, passada sob o constante tormento das ilusões monstruosas; isso é o inferno." - Hiroyuki Itsuki
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22 de maio de 2012
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