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Por isso esse blog possui esse nome... Jigoku No Sora,
o Teto do Inferno

"Esse eu insensato, que tem tão pouca chance de salvação, é totalmente incapaz de resistir a desejos intensos e comprometimentos, a essa sucessão de dias e noites, inegavelmente reais, passada sob o constante tormento das ilusões monstruosas; isso é o inferno." - Hiroyuki Itsuki

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31 de março de 2009

Tolerância versus Conivência

Amigos... peço licença para publicar um email de uma amiga queridíssima e aluna para poder respondê-lo aqui pois como ela mesmo sugere, seria algo interessante para todos os leitores.

"Estou escrevendo pois aconteceram algumas coisas nos últimos dias que achei que valia uma reflexão e uma conversa com você. Até para o grupo e se achar cabível para o blog. Vou preservar o nome das pessoas e das empresas para não ter mais problemas. Porém como sabe, trabalho com mkt esportivo há muito tempo e quando me mudei para o Rio, comecei a complementar a renda da minha pequena empresa com um 2º trabalho em que o dono era parte de um networking construído nos anos passados. Como sempre na minha vida, tudo girou em torno do esporte, uma das empresas parceiras da MINHA pequena empresa, também era parceira dessa agência que trabalhei no Rio e saí depois desse acontecido.

Esse parceiro se encontrou com meu chefe num evento da Volvo Ocean Race aqui no Rio e falou que minhas empresa era desorganizada para ele. Meu chefe fez esse comentário na frente de todos no escritório com um tom meio de deboche e eu e meu sócio fomos tirar satisfação com a dita pessoa, pois já havíamos tido diversos desentendimentos com ela e apesar das tentativas de conversa, ela sempre nos tratou com desdém. Apenas engolia a parceria pois tinha entrado no lugar de uma outra funcionária muito mais profissional e era "obrigada" a continuar a parceria.

Depois do e-mail enviado, ela ao invés de me ligar e tirar satisfação cara a cara como havia solicitado no e-mail, entrou em contato com o meu chefe da agência, o qual tem interesses comerciais com essa parceira, e falou para ele dar um jeito em mim, pois ela estava sendo afetada demais com o acontecido, já que ter a imagem de fofoqueira e de incompetente não é nada bom. Me senti chantageada quando ele me pediu (esse foi um jeito bonito de falar) para colocar panos quente na situação pois a parceria dele era muito mais importante do que eu ou a minha pequena empresa, que ele não poderia misturar as coisas. Respondi que ele foi o primeiro a misturar e que não concordava mas que por conta de TENTAR ter um bom relacionamento com todos, enviaria o e-mail. Ao fazer isso, a funcionária que fez o dito comentário e nunca teve a coragem de falar comigo cara a cara respondeu falando que a justiça estava sendo feita e que ela sabia da conversa que houve na agência e se colocou totalmente por cima da situação.

Depois de todos esses acontecimentos resolvi pedir demissão falando que os meus princípios não batiam com os dele que não digeri direito essa história. A pergunta que pairou na minha cabeça foi:

Até que ponto devemos engolir sapos na vida profissional e até onde devemos deixar com que as pessoas nos afetem?
Com a decisão do meu último e-mail tentando neutralizar a situação, acreditei que todos ficariam bem, mas aparentemente as pessoas tem sempre que estar por cima de você. Vale a pena manter relacionamento com esse tipo de gente?
Cabe a quem julgar essas atitudes?
No Budismo, como isso se aplica e como devemos pensar?
Até que ponto colocamos nossos princípios e verdades abaixo do dinheiro?


Me lembro no dia que reli o livro que tenho do Gandhi várias vezes e resolvi seguir a filosofia dele de apego a verdade e impus o que acreditava ser verdade. Assim como tenho tentando não me sentir ofendida com essas coisas para conseguir ter uma paz interior maior.
Desculpe tomar seu tempo, mas achei que poderia se tornar um exemplo cotidiano e justo de uma discussão.


Beijos e saudades!!!"

Ai ai ai..... vamos lá....

Minha querida amiga, se você trabalhasse onde eu trabalho você não teria problema com essas questões, não pelo menos com a primeira (a dos sapos). Não vou aqui dar a minha opinião sobre o assunto (isso faço em pvt para você), mas vamos ver, como você me pede, os aspectos budistas da situação.

Olha se teve um engolidor de sapos na história foi Buda e vou começar nossa conversa com uma pequena passagem: "Buda e seus monges chegaram a uma cidade e sentaram-se para meditar. Sabendo de sua chegada um homem rude foi ao seu encontro brandando impromprérios e insultos. O homem assim o fez por vários minutos, tendo a sua frente o Buda impassível. Até que o Tataghata abre os olhos, fita o homem e pergunta: "Quando você leva um presente para alguém e essa pessoa não o aceita. De quem é o presente?". O homem sem entender o porquê da indagação responde: "Ora, é meu!". Então Buda, serenamente, diz: "Pois eu não aceito suas ofensas, leve-as daqui!". E voltou à sua meditação."

Os ensinamentos do Budismo irão nos dizer que os insultos a nós proferidos são unicamente das pessoas que o fazem, principalmente quando essas pessoas não são conhecidas ou não tem consciência de seus atos por alguma sociopatia em qualquer grau.

Mas vamos às suas questões: 1) Devemos engolir sapos? Não, não devemos, mas também devolver o sapo com o mesmo peso de nada vai adiantar. Temos vários aspectos para nos atermos aqui. Você precisa do emprego? Se precisa, você tem que engolir os sapos, afinal você necessita daquela situação. Você vai infringir sofrimento à alguém se devolver o sapo? Se for, é melhor guardá-lo. Porém, as pessoas somente nos afetam porque as deixamos afetar, porque damos razão ou mesmo oportunidade a aquele que nos ofende para que isso ocorra. O que nos afeta está dentro de nós e não fora. Nosso ego nos afeta, nos fere, não palavras proferidas. Por isso devemos engolir sapos mas devemos tirar as glândulas venenosas, pois tais sapos não podem e não devem nos afetar.

2) Bom, no caso de se devemos nos relacionar com pessoas desse tipo é difícil dizer sim ou não. Se pensarmos pelos ensinamentos budistas, não importa o tipo de pessoa que nos rodeia, todas são alvos de nossa compaixão. Sobre o email que você enviou, como você iria prever o que aconteceria? Você fez o que achou certo, a reação é imprevisível. Mas também ninguém é obrigado a viver ou conviver com quem não quer, contudo no mundo profissional, muitas vezes é preciso. Te digo como testemunha ocular.

3) Quanto a "quem" irá julgar essa atitude, digo que não será "quem" e sim "o que". E esse "o que" chama-se KARMA. Contra esse não tem remédio, não tem escapatória, não tem fuga, ou seja, o karma dessa pessoa e o seu irão se encarregar de produzir as reações cabíveis e mais cedo ou mais tarde, irão acontecer, irão aflorar. Atitudes negativas irão gerar reações negativas. Não se preocupe, nada detém o karma...

4) Não é uma questão de colocar o dinheiro abaixo de nada, mas minha amiga, você sempre deve analisar a sua situação e colocar as coisas na balança. Eu já pensei em mandar alguns colegas e gerentes para uma terra bem distante, mas preciso do meu emprego. Então nos resta ver que somos nós que temos que mudar a maneira que julgamos ou que observamos o mundo a nossa volta.

Esse jogo de poder egóico do tipo, eu estou por cima, agora você está por baixo não é uma coisa comum, natural, logo nossa reação também não irá ser. Não é o caso de como reagir, mas o caso de ser capaz de analisar a situação e compreendê-la. Sair ou não do trabalho irá trazer diferentes consequências para você, seu chefe e outros envolvidos. Se foi a atitude correta, só você pode dizer.

Desculpe lhe dizer isso, mas o seu orgulho e espírito de combate (que eu sei que você tem e como eu) também vão lhe gerar consequências que creio não serão tão auspiciosas. Você sob o ponto de vista egóico não foi muito diferente da "fofoqueira" ou do "engraçadinho", você se viu no meio de uma guerra de egos e só adicionou mais um. Talvez essa seja uma situação que não tivesse saída positiva se olharmos pelas diversas faces. Talvez o desfecho que você deu tenha sido o natural, mas dificilmente, agora neste minuto, avaliar se foi bom ou ruim. Aliás, bom ou ruim para quem?

Me desculpe mais uma vez por não ser a pessoa que irá aplaudir sua atitude, embora talvez teria feito a mesma coisa, mas quando parasse para pensar, iria ver que terminei sendo igual.

Dê uma lida nos textos UM BUDDHISTA PODE SE JUNTAR AO EXÉRCITO? e MATAR PARA SE DEFENDER

Aguardo seus comentários....

Namo Amida Butsu

26 de março de 2009


A parable told by the sage, Shan Tao (613-681), spiritual ancestor of the Pureland tradition.

And to all those who wish to be reborn in the Pure Land, I now tell a parable for the sake of those who would practice the True Way, as a protection for their faith and a defense against the danger of erring views. What is it? It is like a man who desires to travel a hundred thousand 'li' to the West. Suddenly in the midst of his route he sees two rivers. One is a river of fire stretching South. The other is a river of water stretching North. Each of the two rivers is a hundred steps across and unfathomably deep. They stretch without end to the North and South. Right between the fire and water, however, is a white path barely four or five inches wide. Spanning the East and West banks, it is one hundred steps long. The waves of water surge and splash against the path on one side while the flames of fire scorch it on the other. Ceaselessly, the fire and water come and go.

The man is out in the middle of a wasteland and none of his kind are to be seen. A horde of vicious ruffians and wild beasts see him there alone, and vie with one another in rushing to kill him. Fearing death he runs straightway to the West, and then sees these great rivers. Praying, he says to himself: “To the North and South I see no end to these rivers. Between them I see a white path, which is extremely narrow. Although the two banks are not far apart, how am I to traverse from one to the other? Doubtless today I shall surely die. If I seek to turn back, the horde of vicious ruffians and wild beasts will come at me. If I run to the North or South, evil beasts and poisonous vermin will race toward me. If I seek to make my way to the West, I fear that I may fall into these rivers.”

Thereupon he is seized with an inexpressible terror. He thinks to himself: “Turn back now and I die. Stay and I die. Go forward and I die. Since death must be faced in any case, I would rather follow this path before me and go ahead. With this path I can surely make it across.” Just as he thinks this, he hears someone from the east bank call out and encourage him: “Friend, just follow this path resolutely and there will be no danger of death. To stay here is to die.” And on the west bank. there is someone calling out, “Come straight ahead, single-mindedly and with fixed purpose. I can protect you. Never fear falling into the fire or water!”

At the urging of the one and the calling of the other, the man straightens himself up in body and mind and resolves without any lingering doubts or hesitations. Hardly has he gone a step or two when from the east bank the horde of vicious ruffians calls out to him: “Friend, come back! That way is perilous and you will never get across. Without a doubt you are bound to die. None of us means to harm you.” Though he hears them calling, the man still does not look back but single-mindedly and straightway proceeds on the path. In no time he is at the west bank, far from all troubles forever. He is greeted by his good friend and there is no end of joy.

That is the parable and this is the meaning of it: what we speak of as the “east bank” is comparable to this world, a house in flames. What we speak of as the “west bank” is symbolic of the precious land of highest bliss. The ruffians, wild beasts, and seeming friends are comparable to the Six Sense Organs, Six Consciousnesses, Six Dusts, Five Components, and Four Elements [that constitute the “self””].

The lonely wasteland is the following of bad companions and not meeting with those who are truly good and wise. The two rivers of fire and water are comparable to human greed and affection, like water, and anger and hatred, like fire. The white path in the center, four or five inches wide, is comparable to the pure aspiration for rebirth in the Pure Land which arises in the midst of the passions of greed and anger. Greed and anger are powerful, and thus are likened to fire and water; the good mind is infinitesimal, and thus is likened to a white path [of a few inches in width].

The waves inundating the path are comparable to the constant arising of clinging thoughts in the mind which stain and pollute the good mind. And the flames which scorch the path are comparable to thoughts of anger and hatred which burn up the treasures of dharma and virtue.
The man proceeding on the path toward the West is comparable to one who directs all of his actions and practices toward the West[ern Paradise]. The hearing of voices from the East bank encouraging and exhorting him to pursue the path straight to the West, is like Shakyamuni Buddha, who has already disappeared from the sight of men but whose teachings may still be pursued and are therefore likened to “voices.” The calling out of the ruffians after he has taken a few steps is comparable to those of different teachings and practices and of evil views who wantonly spread their ideas to lead people astray and create disturbances, thus falling themselves into sin and losing their way.

To speak of someone calling from the West bank is comparable to the vow of Amitabha. Reaching the West bank, being greeted by the good friend and rejoicing there, is comparable to all those beings sunk long in the sea of birth and death, floundering and caught in their own delusions, without any means of deliverance, who accept Shakyamuni's testament directing them to the West and Amitabha's compassionate call, and obeying trustfully the will of the two Buddhas while paying no heed to the rivers of fire and water, with devout concentration mount the road of Amitabha's promised power and when life is o'er attain the other Land, where they meet the Buddha and know unending bliss.

[From Taisho daizokyo, XXXVII, 272-3]from William Theodore de Bary, The Buddhist Tradition in India, China and Japan, Vintage, Random House, NY: 1972. ISBN: 0-394-71696-5, pp. 204-207]

Nota: em fase de tradução

20 de março de 2009

Dia Mundial Sem Carne

Não sou vegetariano, mas hoje dia 20/03/2009 é o Dia Mundial Sem Carne. A ingestão de carne não fica mais só no plano filosófico ou religioso, já existem estudos que mostram que a produção de carne é muito mais nociva ao meio-ambiente do que as plantações, orgânicas ou não, mesmo quando falamos de carnes brancas.

Vale a pena pensar no assunto...

Namo Amida Butsu

Jigoku Wa Ichijo

O Inferno é Aqui! Definitivamente....

Ontem reiniciamos as atividades de nosso grupo de estudos aqui em São Paulo, no velho estilo do Terra Pura: grupos de estudos domiciliares, nos reunindo na casa de um em um dia, ora na casa de outro.  Isso nos remonta à época pós-Shinran quando essa prática era corriqueira nas aldeias japonesas e terminaram por sediar os templos que lá se encontram.  A criação desses templos se deu justamente porque o número de pessoas que iam às casas aumentava com o passar do tempo e um local maior se fazia necessário, então se construiam casas dedicadas à audição do Dharma que mais tarde se tornaram os templos.

Durante nossa conversa de ontem estávamos estudando o livro Tariki do cineasta japonês Hiroyuki Itsuki, quando me deparei com uma passagem:

"No Japão, as pessoas costumam se referir ao paraíso da Terra Pura levando à crença de que o paraíso e a Terra Pura são a mesma coisa, mas não creio que esse seja o caso.

A Terra Pura não é um paraíso. Ou, antes, paraíso e inferno - o seu oposto - referem-se a este mundo em que passamos nossas vidas cotidianas. Em Tannisho (Tratado das Lamentações das Divergências), Shiran proferiu  a famosa frase O inferno é inevitável (jigoku wa ichijo).  Muitos vêem nessas palavras a afirmação de que, quando morremos, estamos todos, sem excessão, destinados ao inferno, mas prefiro não interpretá-la assim. 

Interpreto inevitável, ou ichijo, como agora, a realidade que está inevitavelmente aqui, diante de nós.  Não tenho medo de ir para o inferno após a morte, porque já estive lá.  Um eu impulsionado por desejos, um eu que causa danos ao planeta e às outras pessoas, que diz sempre mentiras e está profundamente atado a todos os tipos de interesses temerários, é algo que todos nós temos em comum.

Esse eu insensato, que tem tão pouca chance de salvação, é totalmente incapaz de resistir a desejos intensos e comprometimentos, a essa sucessão de dias e noites, inegavelmente reais, passada sob o constante tormento das ilusões monstruosas; isso é o inferno.

Com nossas ansiedades quanto à morte e doença, com nossos eus discriminadores, com a dor de sermos discriminados, com nossa raiva e cobiça violentas, somos todos residentes do inferno.

Mas, segundo Shinran, a religião é um raio de luz que ilumina o inferno.  A fé religiosa existe para socorrer o espírito sofredor.  É por isso que todos os que vivem no inferno terminam voltando à Terra Pura.  Em nossas vidas cotidianas, há momentos em que conseguimos acreditar nisso.  Isso é o paraíso.  Mas o paraíso quase nunca dura muito tempo.  Em um instante, a alegria do paraíso passa e os picos recortados do inferno voltam a assomar à nossa frente. 

A vida é um constante ir e vir entre esses dois estados, inferno e paraíso.

Nascer na Terra Pura significa aceitar a grande história da vida.  Não importa que tipo de vida você tenha levado.  Após a morte todos nós voltamos, como gotas d'água, ao grande rio e, finalmente, subimos aos céus."  

Gostaria que vocês relessem com calma, palavra por palavra a seguinte frase que é de uma realidade contundente e tem o poder de um mata-leão:

Um eu impulsionado por desejos, um eu que causa danos ao planeta e às outras pessoas, que diz sempre mentiras e está profundamente atado a todos os tipos de interesses temerários, é algo que todos nós temos em comum.

Alguém tem alguma dúvida disso? Alguém conseguiria contestar Itsuki nessa colocação? A priori sinto o calor dessas palavras atingirem meu estômago como um chute de um lutador de vale-tudo, só para depois abaixar a cabeça e pensar: isso é a mais pura verdade... Contudo não sinto pena de ser assim e de ver que todos ao meu redor são assim, isso seria desesperador se não confiasse no Outro Poder, no Tariki.  Se não, olhasse para meu redor e pensasse: está tudo certo, está tudo certo.  Não é sempre assim, pois como disse Itsuki, o inferno é constante e essa sensação é o paraíso.  Mas mesmo quando vivenciamos o paraíso, por pouco tempo que seja, por segundos, sentimos a mão de Buda Amida sob nossa cabeça, sentimos aquela sensação de êxtase momentâneo, a sensação de colocar um pé na Terra Pura, a sensação do Shinjin, da Mente Confiante, da Mente Búdica, a sensação de que tudo que aprendemos desde Buda Shakyamuni é realmente verdade e está disponível para todos, sem distinção.

É a sensação da rendição incondicional à nossa total insignificância, à nossa interdepêndencia, ao nosso karma.  É a sensação que nos leva a levantar o braços e dizer eu me rendo, me rendo, porque está tudo bem. É a sensação de olhar em volta e dizer: Namo Amida Butsu, Namo Amida Butsu, Namo Amida Butsu.


6 de março de 2009

Uma menina de 9 anos

Acho que todos já sabem do ocorrido e não preciso me deter nos detalhes do assunto. Meu ponto aqui é como ver o caso pelos olhos do Budismo, como também, contrariando meus princípios, compará-los com a posição do Catolicismo.

O que aconteceu neste caso é uma tremenda e infeliz manifestação karmica de todos os lados, não há lado positivo ou negativo, neste caso.  O que há é uma amostra direta do que o ser humano pode fazer e como ele "vive" ou convive com os Seis Reinos de Existência durante sua vida.

O aborto da meninas ao meu ver tinha que realmente ser feito, não só pelas complicações físicas, mas como também psicológicas (mais ainda!).  

Do ponto de vista budista, na falta de referência específica sobre o assunto nos Sutras, temos que analisar do ponto de vista do menor sofrimento para todos.  As consequências karmicas são inúmeras para todos os envolvidos, padrasto, mãe, médicos, vizinhos, o arcebispo e não havia como evitá-las.  Mas sem dúvida o aborto foi a melhor opção, ou seja, a melhor diante da quantidade de sofrimento a mais que a situação levaria se a gravidez continuasse.

Tenho compaixão pelo padrasto pois o futuro dele é bem negro e sua próxima vida, provavelmente em um dos infernos, não vai ser nada, nada tranquila mesmo.

O que muitos não conseguem enxergar (e aí adiciono todos os hipócritas de plantão) é que não foram ceifadas somente as vidas dos fetos abortados, mas as vidas da menina, da irmã (estuprada tantas vezes quanto ela), da mãe (que não teve atitude firme), dos parentes que sabiam e nada fizeram... essas vidas já eram.... não 2 que não nasceram, mas outras 6 ou 7 ou mais que já tinham nascido e que praticamente morreram para o mundo.

Esse sociopata assassinou moralmente a vida de uma família inteira e dos amigos dessa e parece que ninguém vê isso...

Meu recado para os médicos é: Não se preocupem com a excomunhão, foi um favor que a Igreja Católica fez para vocês, pois acredito que a inteligência de vocês pedem uma fé menos ignorante e mais desenvolvida. Pois nem vocês, nem a mãe dessa criança merecem fazer parte de uma religião que exalta um criminoso e pune as vítimas.

Quanto ao dito Arcebispo, só tenho que sentir compaixão pela sua sabedoria limítrofe.  Mas não posso deixar de me furtar a fazer o seguinte comentário: É assim que a Igreja Católica pretende "reter" fiéis? Acho que alguém está errando na estratégia.

Namo Amida Butsu