Por Upasaka HL Wai, O Canal budista, 02 de julho de 2007
Kuala Lumpur, Malásia - Como qualquer grande religião no mundo, o
Budismo também tem seu quinhão de cultos nocivos. Não importa se o líder
é chamado de Guru, Rinpoche, Sifu ou Bhante, desde que haja tendência
de usar e abusar do Dharma para ganho pessoal, como obter seguidores com
intuito de alimentar o ego do líder ou sua excentricidade, cultistas
sempre irão existir. Cultos também irão prosperar enquanto houver
seguidores que se deixam ser enganados, estejam eles cientes disso ou
não.
Um culto¹ é definido pelo Dicionário Livre como, (1)
uma religião ou seita religiosa geralmente considerada extremista ou
falsa, onde seus seguidores muitas vezes vivem de uma forma não
convencional, sob a orientação de um líder autoritário e carismático,
(2) Método ou sistema, geralmente não científicos, cujo criador diz que o
mesmo possui poder exclusivo ou excepcional para curar uma determinada
doença e (3) Obsessão, especialmente se estiver na moda, devoção ou
veneração por uma pessoa, príncipio ou coisa.
Aqui estão alguns sinais-chave para se identificar cultistas (dentre eles sectários):
O líder está sempre certo
Liderança carismática é fortemente demonstrada em uma situação de
culto. A máxima é de que "o líder tem sempre razão". Muito
frequentemente, a sua "santidade" é auto-ungido e vários títulos
honoríficos são produzidos sem qualquer evidência clara de certificação.
Quando questionado em particular sobre a sua ordenação, especificamente
sobre onde, como e quando ocorreu, as suas respostas são normalmente
evasivas, ou na melhor das hipóteses uma lista desconexa de significados
obscuros (como "uma linhagem de nenhuma escola").
O líder afirmará ter conhecimento supremo em determinadas áreas de
informação (vinaya, suttas ou liturgia), e pode se utilizar de alguns
versículos para justificar seus pensamentos e ações. Com essa
mentalidade, ele sente possuir autoridade divina para instruir as
pessoas como devem viver e se comportar (como diz o ditado, em terra de
cego, quem tem um olho é rei).
Não há questionamentos
Seguidores do culto costumam citar seus líderes sem nunca
questioná-los. Questionar o líder de uma seita pode resultar em sanção
ou abandono por parte dos outros membros e do líder. Até mesmo o "Kalama
Sutta" pode ser distorcido para se encaixar na interpretação. Um dos
versos favoritos é a aplicação seletiva que somente "... quando vós
mesmos souberes:" Essas coisas (ações) são boas, essas coisas não são
condenáveis; essas coisas são elogiadas pelos sábios; realizadas e
observadas, estas coisas levam ao beneficio e à felicidade ", entre e
permaneça nelas."
O problema com isto é que é frequentemente dito aos seguidores que
eles são "aprendizes do Dharma", que, devido à sua "ignorância", eles
precisam praticar mais diligentemente antes que possam decidir por si
mesmos. Como tal, é imperativo formar a "amizade espiritual", Kalyana
Mitra: a ligação especial entre "professor e aprendiz". Infelizmente, os
cultistas tendem a explorar essa relação para seus próprios fins, o que
leva eventualmente à perpetuação de um sistema parasitário ou à
dependência contínua. Isso é a antítese dos relacionamentos simbióticos
que existem entre a Sangha e os leigos que são estabelecidos em escolas
regulares.
Seguidores do culto exibem um zelo inquestionável pelo seu líder e
se recusam a aceitar que seu líder esteja errado. Nos casos mais
extremos os cultistas podem recorrer à violência para proteger seu
professor.
O mundo inteiro está contra nós
Críticas públicas e reprimendas por aqueles que são vistos como mais
experientes ou populares, geralmente fazem com que o líder assuma a
posição de oprimido. Seguidores são constantemente lembrados de que
estão sendo intimidados por mãos invisíveis, por pessoas com autoridade e
por aqueles que tem inveja de suas formas pouco ortodoxas. A única
maneira que eles tem de combater essas forças é a união.
Ninguém mais está certo
Os líderes da seita acreditam que detêm o monopólio da verdade em seu
método de transmitir os ensinamentos e no caminho da prática. Qualquer
pessoa que queira participar ou visitar um outro centro ou grupo de
Dharma é evitado pelo restante da congregação e considerado um traidor.
Houve um caso, na Malásia, onde um professor de culto grosseiramente
abusou do Pannatti Puggala (o livro de classificação dos quatro tipos de
indivíduos) para estigmatizar aqueles que não seguem os rituais
prescritos e os modos de comportamento como "padaparama" - indivíduos
que não podem obter a libertação de males mundanos durante este tempo de
vida, embora ele ou ela se enpenhem com todo seu esforço na prática do
Dhamma. Para piorar a situação,tudo que se precisa faze para conseguir a
liberação é seguir rigorosamente os métodos prescritos e seguir as
instruções do professor.
Exploração financeira
Cultos geralmente estão preocupados em angariar dinheiro, seja para a
caridade ou para construir seu centro. Um de seus métodos favoritos é
enfatizar os ensinamentos do "não-eu", "ausência de ego", "ganância" e
"vazio" e, em seguida, relaciona-los com a idéia de que a riqueza
pessoal tem menos "mérito" em comparação com a partilha com a comunidade
para difundir o Dharma. Grupos de culto ensinam que se sacrificar para o
bem maior de organização é muito melhor do que colocar o seu dinheiro
em outro lugar.
Usando medo e intimidação
Religiões de culto dependem da intimidação, privada e pública, para
manter seus membros na linha. Particularmente no budismo, onde a ênfase
do treinamento da mente através da meditação é integral à prática,
indivíduos fracos ou aqueles que estão enfrentando problemas pessoais
são especialmente suscetíveis a esse tratamento. Através de seu carisma,
os líderes da seita são adeptos a "empatizar" com aqueles que enfrentam
problemas pessoais.
Quando o líder se irrita e usa palavras ásperas, explica-se logo que é
apenas uma expressão de "amor e compaixão". Alguns justificam este
comportamento rotulando a resposta agressiva como "amizade feroz". E
quando o membro alvo também está sujeito à pressão de seus pares para
"modificar o seu comportamento", a intimidação se torna completa. Isto é
o objeto de estudo da "Psicologia das massas"
Como resultado, os membros do culto continuamente enfrentam batalhas
intragrupais para manter o seu status devido ao seu desejo de aceitação e
pelo fato de que o mesmo pode mudar dependendo do que está acontecendo
em sua vida². Desta forma, os líderes religiosos da seita são capazes de
manter um fluxo constante de membros obrigados e vinculados à sua
organização.
Lavagem cerebral
Quase todos os cultos budistas nocivos usam alguma técnica de
alteração da mente, como a meditação, o medo do professor, o medo de
"karma ruim" e a manipulação emocional para fazer lavagem cerebral nos
membros da congregação e obriga-los a ficar.
Tais líderes também são adeptos do uso da culpa, muitas vezes jogando
com a mente de pessoas confusas, dando-lhes aconselhamento pessoal
sobre "observações de formações mentais", após uma sessão de meditação
sentada.
Ao invez de levar o aluno a fortalecer sua determinação pessoal para
que possa enfrentar seus demônios internos, o cultista vai preferir
cultivar idéias de libertação por meio do apoio da comunidade,
perpetuando a dependência do aluno em forças externas.
______________________________
1 - O uso da palavra culto na língua inglesa é
diferente do uso na lingua portuguesa. Daí a tradução de cult para culto
nocivo, já que no inglês a palavra culto tem uma conotação negativa
quase que aprioristicamente. Neste texto, compreende a palavra culto,
como algo nocivo caso não seja especificado.
2 - Esta parte do texto foi alterada em
relação ao original para ficar mais condizente com as teorias de
psicologia social e comportamentos de grupo. Esta parte do texto no
orginal não faz sentido e não condiz com os conceitos de psicologia a
qual se refere ao longo do texto.
(traduzido do Original: http://tinyurl.com/9b8rldx por Mauricio Ghigonetto e João Gabriel Carvalho Tavares)
Por isso esse blog possui esse nome... Jigoku No Sora,
o Teto do Inferno
"Esse eu insensato, que tem tão pouca chance de salvação, é totalmente incapaz de resistir a desejos intensos e comprometimentos, a essa sucessão de dias e noites, inegavelmente reais, passada sob o constante tormento das ilusões monstruosas; isso é o inferno." - Hiroyuki Itsuki
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