Em junho último fiz uma cirurgia metabólica, na qual reduzi meu estômago e fiz um bypass no intestino. Estava pesando 140kg, pré-diabético, com esteatose hepática e um pequeno problema cardíaco. Quase 6 meses depois já se foram 35 kg, minha diabetes desapareceu e meus exames nunca estiveram tão bons. Deveria ter feito antes, mas acho que minha cabeça misturado com concepções errôneas não me permitiram.
Toda vez que pensava em fazer a cirurgia alguns pontos me vinham a mente, tais como vaidade, egocentrismo e uma sensação avassaladora de incompetência. Sim, incompetência... afinal eu poderia fazer um mega regime, correr, fazer musculação e tudo ficaria bem, eu só precisava de força de vontade. Só que lá no fundo eu sabia que não tinha essa força e isso me deixava decepcionado. Ora, tanta gente consegue...
E ainda tinha a parte da vaidade. Será que devemos nos submeter a uma cirurgia somente por vaidade? Mas e se, se ela, nosso corpo padecer? Não estaríamos jogando a valiosa oportunidade de sermos seres humanos pelo ralo?
Tudo isso bagunçou minha cabeça. Acho que nunca os ensinamentos budistas, ou melhor, minha compreensão sobre eles, me atrapalharam tanto na vida. De um lado, queria ser um "bom budista" e por outro lado, morria de vontade de vestir uma calça 46 (vestia 62) e comprar uma camisa social numero 5, além de ter disposição para voltar para o jiu-jitsu e para curtir melhor a vida.
Bom, tomei uma decisão radical para depois compreender o que e como havia feito. Mandei minha concepção budista para o inferno e me operei. Pastei na mão de vários maras, tive infecção hospitalar, depressão profunda e houveram dias que me arrependi totalmente do que havia feito.
Mas hoje, estou bem e feliz por ter feito, embora não goste de lembrar meus 10 dias forçados de hospital. Também compreendo melhor que minha atitude foi a melhor a ser tomada. Não sou infalível, não sou perfeito, se fosse não comeria tanto e faria mais exercícios. Se fosse, teria a tal "força de vontade", mas não me envergonho mais disso. Eu estava com pensamentos muito radicais, pensamentos não de um budista, mas de um aspirante a Buda, coisa que ainda nem posso me dar ao luxo.
Sendo assim, sou um ser humano normal. Disposto a ser salvo pela Compaixão de Buda e sabendo que com 140 ou 100 kg tenho as mesmas chances que qualquer outro.
Se vou viver mais, melhor e disposto a continuar minha senda pelo Samsara, está valendo. Não podemos radicalizar nem tentar ser o que não somos. Temos que entender as mensagens que o mundo nos envia e não temos que ficar supondo que há um texto oculto nelas, um código que temos que buscar a chave dentro de nós. A prerrogativa de quem manda a mensagem é que ela seja clara, se está confusa, não nos culpem.
Namo Amida Butsu